História do Brasil

Messianismo no Contestado

Messias, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa de Silveira Bueno, 1996, p.428 significa “pessoa esperada ansiosamente, reformador social”.

Na história de Santa Catarina, vemos vários fatores importantes e fundamentais, que contribuíram para a estrutura e o contexto social em que nos encontramos hoje. Dentro desses fatores, queremos destacar o MESSIANISMO, as crenças e a fé do povo que caracterizou e deu forma ao ‘Contestado’.

Entramos agora no ano de 1844, dando início à histórias, lendas, realidades e mitos, que nos levam ao profundo da História da região Sul de nosso país. Esta pesquisa destina-se a todas as pessoas que procuram saber o porquê das situações que encontramos hoje, e que têm a certeza de que, através da História, podemos conhecer o passado para entendermos nosso presente e mudarmos nosso futuro.

O que foi o contestado

O Contestado foi um dos maiores movimentos sociais no país do início do século XX. Este conflito começa com a criação da capitania do Paraná, em 1853, e teve como motivo primeiro, questões territoriais entre Paraná e Santa Catarina, mas desencadeou em conflitos sociais, cheios de interesses dentro de seu contexto. Em meados de 1909, já entre disputas territoriais e outros fatores que contribuíram para o desenrolar do conflito, temos a construção da estrada de ferro que liga São Paulo ao Rio Grande do Sul, pela empresa americana Lumber, após tentativas interminadas de empresas brasileiras.

A Lumber (Southern Brazil Lumber and Colonization Co.), em acordo com o governo brasileiro, já estava terminando a construção da estrada, e teria direito a 15km de terras de cada lado da ferrovia construída. Assim, eles explorariam a área, retirando as madeiras e montando ali engenhos a retirada e o tratamento destas. Com a construção da estrada, e a vinda da Lumber para a região, os conflitos aumentaram.

Enquanto os latifundiários e as empresas norte-americanas passaram a controlar a economia local, formou-se uma camada social composta por trabalhadores braçais, extremamente pobres e simples, agravando ainda mais sua situação com o término da construção, em 1910 – aumentando o desemprego e a marginalidade da região. Esse novo nicho social, estava cada vez mais preso ao mandonismo dos coronéis, que não alimentava nenhuma perspectiva de alteração de sua situação. Essa camada social é conhecida como ‘caboclismo’, ‘sertanejos’, etc.

Em 1914, o General Setembrino de Carvalho, enviado do Rio de Janeiro com tropas federais, e juntamente com soldados do Paraná e Santa Catarina, cercaram a região de Santa Maria matando grande número de pessoas; mortandade causada pela fome e epidemia de tifo, que acabou forçando os sertanejos, caboclos a se renderem. Após 4 anos entre conflitos e mortandades, o movimento do Contestado foi desfeito, a fronteira entre os estados foi demarcada e o poder dos latifundiários foi consolidado.

O messianismo no contestado

Caracteriza-se Messianismo a espera, a ansiedade em se encontrar alguém que mude a situação de vida particular e coletiva do local e do contexto em que você vive. Temos exemplos de messianismo em todo o decorrer da história da humanidade. O Messias, profeta enviado por Deus para dirigir e trazer mensagens de paz ao povo, sempre foi uma expectativa inerente ao ser humano. Temos Moisés, João Batista, Jesus no povo hebraico. Temos Buda e Maomé entre os povos budistas e mulçumanos, temos Smith entre os mórmons, Alan Kardec no espiritismo, entre outros. Essa procura, que faz parte do ser humano, nos leva a perceber que sempre estamos buscando algo que satisfaça nossas expectativas, que responda, verdadeiramente ou não, nossas questões mais profundas e essenciais. Essa busca não requer sabedoria, nem tempo, nem espaço, nem contexto, ela surge em nosso meio, desde a antiguidade até os dias de hoje, de maneira que por mais simples ou erudita que a pessoa seja ou se torne, ela sempre estará buscando o conhecimento daquilo que ela não entende e faz parte da sua essência.

No messianismo, a história não é diferente. A Igreja Católica, oficial no país desde 26 de Abril de 1500, trouxe consigo suas doutrinas, dogmas e tradições. Sempre envolvida com o Estado e com o Governo, monárquico ou não, a igreja influenciou de maneira visível e palpável todo o país. O povo foi educado dentro de uma religião oficial rígida e tradicionalista, e cresceu passando isso de geração em geração.

Nosso país, por sua grande extensão territorial e a mistura de várias etnias, foi aos poucos moldando a religião oficial de acordo com o seu contexto e interesse. Para entendermos o surgimento desse movimento messiânico na Região Sul, precisamos primeiro abordar o contexto social e humano em que vivam nossos caboclos e sertanejos.

Contexto Social: Catolicismo inacessível e necessidade de crer

Os caboclos estavam sem perspectivas. A Igreja não ia até eles e tornava-se inacessível no meio de tantos conflitos e posições que a própria igreja deveria tomar em relação ao Estado e aos acontecimentos. Eles eram simples, até ignorantes e analfabetos. Não tinham acesso à bíblia católica (a oficial do país), mas conheciam as escrituras superficialmente e somente pelo que era falado de um para outro. Estavam aflitos, pois teriam que sair de onde nasceram e se criaram, da terra deles, e sem motivo aparente, apenas porque disseram que aquelas terras agora tinham dono.

Criam que a estrada de ferro trazia um ‘Dragão’ que lançava fogo por sua boca, que queria destruí-los. Necessitavam de algo para crer, para se apegar. Algo que trouxesse força e vontade de viver. A Religião Oficial, com todos os seus dogmas, não satisfez, não apareceu. Assim, dentro desse contexto, aparece um monge, que se diz enviado por Deus, tendo chamado para peregrinação: José Maria de Agostinis. (Mais a frente trataremos deste assunto). Ele não era de outra religião, ele não confrontou as ideologias da época, apenas trazia consigo as respostas, verdadeiras ou não, que os caboclos esperavam. A base do messianismo dentro do Contestado é o Catolicismo: o culto às imagens, aos santos e à Maria. Os mesmos sacramentos de batismo, comunhão, casamento, etc. Os fundamentos do catolicismo foram mantidos, porém, muitas de suas doutrinas foram alteradas. No messianismo, cria-se em curas, ervas curandeiras, profecias, santidade das meninas virgens, na cura que vinha pelo toque à bandeira do Espírito Santo, etc. Mas os monges não eram sacerdotes católicos, ordenados pela igreja. Não traziam consigo conhecimento teológico comprovado, não foram oficialmente enviados para evangelizar e atender as áreas por onde passaram. Eles apenas criam ser chamados por Deus para peregrinar e traziam conselhos, curas através das plantas e ervas e profecias que saciavam os caboclos.

A crença nestes monges, mais especificamente em José Maria, foi tanta, que em dado momento da história dos conflitos, eles os faziam em nome do monge, e dizendo estarem direcionados por ele tara tal. Carregavam consigo as bandeiras que representavam sua devoção, e proclamavam a todos suas crenças, aumentando consideravelmente a fama, os mitos e os ‘milagres’ que envolveram o assunto.

Quem foi João Maria de Agostini

Havia nas câmaras municipais do Brasil, antigamente denominadas prefeituras, o livro de registro dos estrangeiros..Os estrangeiros eram obrigados a fazer o registro assim que chegassem no município. Foi quando então apresentou se o monge João Maria para efetuar o registro 24 de dezembro de 1844.
João Maria de Agostinho, natural de Piemont/Itália idade 43 anos, solteiro, profissão de solitário eremita, vindo para exercer seu ministério, declarou residir nas matas da cidade de Sorocaba, principalmente no morro da fábrica de ferro de Ipanema e ter chegado no dia 24 de dezembro 1844 vindo do Rio de Janeiro.

A estrada de ferro Ipanema, chamava-se São João de Ipanema e foi a primeira siderúrgica do Brasil, no terreno da fábrica, localizava-se o morro do Aracoiaba. Nesse morro havia uma cavidade, formando um tipo de gruta, tendo dentro uma pedra em forma de mesa e próxima de uma fonte brotada de uma rocha: nesta gruta residia o monge João Maria, eremita e de comportamento ascético, Por sua morada, essa pedra passou a ser conhecida como ‘pedra santa’.

Também conhecido como monge de Ipanema ele raramente descia à vila da fábrica, onde se havia cercado pelo respeito temeroso dos caipiras e operários. Às vezes na calada da noite, entoava em voz alta seus saldos e orações fazendo com que o povo escutando o respeitasse cada vez mais.Assim atraiu inúmeros visitantes, uns por curiosidade, outros em busca de lenitivos espirituais ou materiais. A água límpida que corria do riacho era considerada milagrosa.

O monge era de estatura baixa, cor clara, cabelos grisalhos, olhos pardos, nariz regular, barba cerrada, rosto comprido e aleijado dos três dedos na mão esquerda. Vestia se de um habito talvez franciscano, sobre o qual caiam lhe os cabelos compridos e a barba longa, dormia sobre uma tabua e alimentava se de frutas, além de algumas dádivas dos sitiantes próximos.

Segundo vários depoimentos, o monge era austero e humilde, apontado como homem piedoso e de costumes simples, de vida rigorosamente sóbria e severa, na solidão do seu abrigo, tinha apenas olhos e pensamentos voltados para Deus, em louvor de quem entoava seus cânticos e proferia suas preces.
As vezes assistia a missa rezada na capela da fábrica, e depois dela dirigia se a seus assistentes, permaneceu por 1 ano e meio na cidade de Sorocaba.

De 1847 a 1855 passou a viver em outra gruta, na vila do príncipe, na Lapa – Paraná, onde ficou conhecido como monge da Lapa. Ali dedicava se aos estudos das plantas, receitas e ensinava o uso de remédios caseiros, e fazia orações públicas. Fugia do convívio do homem para se dedicar a Deus, só tomava água de fonte.

Quando peregrinava tinha o hábito de plantar uma cruz, nos lugares que parava para dormir. Não estimulava conduzir a heresia e nem pretendia ser revolucionário.Mas por onde passava deixava marcas que jamais o povo esqueceria ou então algum dia esqueceu.

Por onde João Maria passou

O Monge João Maria de Agostinho chegou no Brasil em 1844, passando primeiramente pelo Rio de Janeiro, e logo em seguida para Sorocaba, onde começou a fazer suas pregações. Ele utilizava a estrada dos tropeiros para mudar de lugar e continuar sua ‘peregrinação’, e esta estrada ligava Sorocaba ao Rio Grande do Sul. Assim o monge foi até o Rio Grande e em Botucaraí João Maria fez sua primeira morada.
Depois de algum tempo foi para Cerro do Campestre, local que já conhecia quando passou por Santa Maria. Ali, entre os montes Botucaí e Campestre, ele rezava e peregrinava.

No final de 1849 o monge foi preso e encaminhado ao Governo da Província de Santa Catarina, onde foi para a Ilha do Arvoredo que fica no município de Porto Belo. Em 1851 o monge se instalou em uma gruta no município da Lapa, onde também fez suas pregações e conquistou vários fiéis.
Ele também passou por Rio Negro, Mafra, Lages, Rio do Sul – onde ficou no Morro do Taió, Porto União, União da Vitória, Palmas, Curitibanos, Campos Novos e Canoinhas.

Este monge ficou conhecido em todo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, pois acabou passando e ficando famoso em quase todos os municípios desses estados. Normalmente, as pessoas que seguiam o monge eram camponeses, caipiras, peões, tropeiros, operários, pessoas simples.

Visão do Catolicismo Ofial

A Igreja Católica, religião oficial do Estado Português, chegou ao Brasil em 1500 com Pedro Álvares Cabral. Quando as caravelas de Cabral ancoraram em Porto Seguro, parte da tripulação desembarcou para assistir à uma missa realizada para celebrar o ‘achamento’de novas terras, no dia 26 de abril.

O messianismo e a crença dos caboclos e simples nos Monges (forma de vida religiosa), à princípio teve o apoio das autoridades eclesiásticas, pois difundiam o catolicismo e as representações do imaginário piedoso que a Igreja desejava estabelecer no Brasil. ‘Os santuários são fontes de inspiração da fé e da esperança do povo do interior’, diziam os sacerdotes.

Eremitas, milagreiros e santuários constituíam o eixo em torno do qual se organizava a religiosidade popular no Brasil Colonial.

Frei Rogério Neuhaus, da ordem dos franciscanos, um dos poucos sacerdotes da Igreja Católica que percorria os sertões, se encontrou com o Monge João Maria de Jesus. “A ausência de padres deixa o caminho aberto para a presença de outros líderes religiosos, carismáticos e milagreiros” disse ele.
Esse catolicismo, que vive à margem da hierarquia e da rígida doutrina de Roma, é professado principalmente pelas camadas populares. Ele se manifesta por um culto exclusivo às imagens, pelas rezas e promessas, pelas curas milagrosas, pelo anúncio dos castigos de Deus e que o fim do mundo já está próximo.

Os dois monges mais conhecidos consideram-se profetas e não demonstravam nenhuma subordinação à doutrina Oficial da Igreja Católica, e esta não se opôs, ficando oficialmente neutra e ignorando a influência desses líderes em nossa região.

Essas são as fontes oficiais pesquisadas. Sabemos que a Igreja Católica, por estar fundamentada no Estado, obrigatoriamente ignorou os ocorridos, uma vez que os padres não chegavam aos camponeses, e eles necessariamente buscavam crer em suas próprias ideologias.

A visão do Caboclo

Como já vimos anteriormente, para os caboclos era fácil crer nesses monges ‘curandeiros’, que voluntariamente ou não, prometiam cura, felicidade e fé. Eles, os caboclos, ficaram conhecidos em toda a região como fanáticos, devido à sua forte devoção e culto ao monge. Não era de se admirar: a forma como o Monge foi exaltado pelos moradores da região foi demasiadamente escandalosa. Eles criam que a bandeira do divino Espírito Santo curasse, e que, apenas escutando as rezas do monge, eles seriam sarados.

A prova mais concreta de toda essa crença foi a influência bélica e monarquista que o monge ‘José Maria’, que dizia-se irmão de João, o desertor da Policia do Paraná, exerceu sobre os moradores. Os conflitos entre federalistas e caboclos foi acentuado por este monge, que lia Carlos Magno e mostrava grande interesse pela monarquia. Este último monge aparece nos campos do Irani, curando e utilizando ervas. O ajuntamento de pessoas provocou a preocupação das autoridades de Palmas, e após algum tempo de movimentação, todos os problemas do contestado desencadearam no Conflito do Irani, já falado anteriormente.

Esse apanhado geral sobre os monges e as características do povo em relação à ele, nos remete a visualizar nosso povo, catarinense, característico, fanático, que hoje parece ser esquecido. A cultura cabocla não poderia ter agido de forma diferente. As curas, a crença, as lutas, tudo isso reflete a personalidade de um povo, e a estrutura de uma sociedade.

Alguns dados sobre o  contestado e o messianismo:

Área conflagrada: 15.000 km²
População da época envolvida na área de conflito: aproximadamente 40.000 habitantes
Municípios do Paraná, na época: Rio Negro, Itaiópolis, Timbó, Três Barras, União da Vitória e Palmas
Municípios de Santa Catarina, na época: Lages, Curitibanos, Campos Novos e Canoinhas

Alguns Antecedentes e Precedentes:

  • Ação judicial de Santa Catarina contra o Paraná em 1900, por limites
  • Decisões judiciais do STF pró-Santa Catarina em 1904, 1909 e 1910
  • Revolta do ex-maragato Demétrio Ramos na zona do Timbó, em 1905 e 1906
  • Construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, de 1908 a 1910
  • Criação do Municípios de Canoinhas/SC e Itaiópolis, de Três Barras e Timbó (PR)
  • Instalação da Southern Brazil Lumber & Colonization em Calmon (1908) e em Três Barras (1912)
  • Construção do Ramal de São Francisco, a partir de 1911
  • 1911: Revolta do ex-maragato Aleixo Gonçalves de Lima em Canoinhas
  • 1910-1912: Questão de terras da Fazenda Irani e da Cia. Frigorífica e Pastoril
  • Combate no Banhado Grande, em Irani, em outubro de 1912
  • 1911: Escrituração de glebas de terras devolutas do Contestado para a EFSPRG
  • Disputas pela exploração dos ervais – concessões de Estados e Municípios
  • Vendas suspeitas de terras no Contestado, do Estado para especuladores– “bendegós”
  • Disputas eleitorais entre os coronéis da região pelos domínios políticos nos municípios
  • Espírito guerreiro do Caboclo Pardo (Revolução Farroupilha e Revolução Federalista)
  • Religiosidade: Messianismo, misticismo e fanatismo da população cabocla
  • Ideologia Nacionalista – Civilismo na República – Reestruturação do Exército

Início da Guerra: Dezembro de 1913, em Taquaruçu
Tempo da Guerra: 26 meses
Auge da Guerra: Março-abril de 1915, em Santa Maria, na Serra do Espigão
Final da Guerra: Janeiro de 1916, em Perdizinhas

Combatentes militares no auge da Guerra: 8.000 homens, sendo 7.000 soldados do Exército Brasileiro, do Regimento de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina, mais 1.000 civis contratados.

Exército Encantado de São Sebastião: 10.000 combatentes envolvidos durante a Guerra.
Baixas nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1.000, entre mortos, feridos e desertores
Baixas na população civil revoltada: de 5.000 a 8.000, entre mortos, feridos e desaparecidos
Custo da Guerra para a União: cerca de 3.000:000$000, mais soldos militares

Algumas Consequências Imediatas:

  • 20/10/1916: Assinatura do Acordo de Limites Paraná-Santa Catarina, no Rio de Janeiro;
  • 07/11/1916: Manifestações nos municípios do Contestado-Paranaense contra o acordo;
  • De maio a agosto de 1917: Sublevação popular no Contestado-Paranaense, pró Estado das Missões;
  • Maio e junho de 1917: Ascensão e assassinato do monge Jesus Nazareno;
  • 03/08/1917: Homologação final do Acordo de Limites;
  • Setembro de 1917: Instalação dos municípios de Mafra, Cruzeiro e de Porto União;
  • 1918: Reinício da colonização no Centro-Oeste Catarinense, por empresas particulares;
  • Janeiro e maio de 1920: Revolta política em Erval e Cruzeiro;
  • Março de 1921: Revolta de caboclos contra medição de terras, entre Catanduvas e Capinzal.

Conclusão

Nós, como grupo, ao pesquisarmos sobre o Messianismo no Contestado, nos deparamos com realidades e histórias que ainda não conhecíamos, ou não sabíamos corretamente como se passavam. É interessante perceber como nosso passado, nossa história, reflete na forma como vivemos o presente. Como é possível ainda mantermos características de 100 anos atrás? A Larise foi até Lageado, onde ainda moram alguns caboclos que chegaram a ver o Monge passar. Pelas fotos que ela tirou, é possível ver que a cultura e a personalidade desse povo ainda perpetua.

A História de Santa Catarina, em especial o Contestado, sempre deixam marcas em nossas vidas. Os monges, a forma como eles peregrinavam, a forma como o povo cria, a forma de como a igreja, os coronéis e outros, assistiam esse ‘show’ é muito interessante. Os caboclos tiveram mais personalidade que muitos imigrantes que vieram pra cá.

Parece que estamos repetindo por falarmos tanto desse povo, mas é impossível não comentarmos: Se pudéssemos resumir o Messianismo com uma palavra, seria: ‘Caboclo’. Eles são os responsáveis por esse movimento messiânico no Sul do Brasil. Não podemos afirmar quem era monge e quem se aproveitava disso. Não podemos dizer se eles eram verdadeiros ou não, não podemos afirmar se estacam certos ou errados e nem se poderia ter sido diferente. Podemos, no entanto, dizer, que percebemos no nosso povo uma influência messiânica arraigada em nossa cultura, num catolicismo rudimentar e em crenças, lendas, mitos, simpatias, que ainda perduram .

Podemos finalizar afirmando que o messianismo ontem, retrata nossa sociedade hoje, e que compreendendo o que se passou, podemos perceber como as coisas estão e como estarão. Isso nada mais é que o retrato da nossa sociedade.

Bibliografia

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  • THOMÉ, Nilson. Sangue, Suor e Lágrimas no Chão Contestado. Caçador (SC): UnC, 1992.
  • THOMÉ, Nilson. Trem de Ferro – História da Ferrovia do Contestado. Florianópolis: Lunardelli, 2 ed. 1983.
  • THOMÉ, Nilson. São João Maria na História do Contestado, Resgate da Memória. Florianópolis: Universidade do Contestado, Campus Caçador. 1983.
  • CABRAL, Oswaldo R. História de Santa Catarina. Rio de Janeiro: Laudes, 2, ed., 1970.
  • BEIGUELMAN, Paula. Formação Política do Brasil. Rio de Janeiro: Liv. Pioneira Editora. 1967.
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  • PRIORE, Mary Del. Religião e religiosidade no Brasil Colonial. Porto Alegre.

Veja também: