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Figuras de Linguagem

As figuras de linguagem são, de modo geral, um desvio de linguagem, um estranhamento, mínimo que seja, quanto ao uso tido como “normal” das palavras ou construções.

Também conhecidas como figuras de retórica, são formas, a princípio, particulares e tecnicamente elaboradas de expressão das ideias a fim de torná-las mais incisivas, ou mais comoventes, ou mais originais.

As figuras de linguagem podem ser divididas em quatro modos: figuras de palavras,  de pensamento, de construção ou sintaxe e de som, confira as principais:

Figuras de palavras

São relacionadas com a mudança ou extensão de sentido das palavras.

Metáfora

A metáfora caracteriza-se pela substituição de um termo por outro. Essa troca só é possível se entre as duas realidades houver algum ponto de contato, uma área limítrofe, quanto ao significado. Trata-se, portanto, de uma comparação feita subjetivamente. O seu uso dela só valerá a pena se o exemplo for inusitado, original, o que garante o gosto da novidade no discurso em que foi inserido.

Não perguntavam por mim, mas deram por minha falta. Na trama da minha ausência, inventaram tela falsa.  

Nos versos de Cecília Meireles, tela significa perfil, descrição de uma personalidade, retrato de um comportamento, que foi passado a pessoas, de maneira falsa, mentirosa, provavelmente de forma negativa.

Metonímia

Substituição de uma palavra por outra, por haver alguma proximidade ou semelhança entre elas. Diferente da metáfora, a relação aqui, entre as palavras, é objetiva e não subjetiva. Existem várias modalidades de metonímia:

  1. Tenho alergia ao sol – Causa pelo efeito
  2. O chefe fuma um havana todos os dias – O lugar de produção pelo produto
  3. Todos devíamos ler Machado de Assis e Graciliano Ramos – O autor pela obra

1) O sol não é a causa da alergia e sim os raios emitidos por ele. 2) O charuto é chamado assim por ser produzido na cidade de Havana. 3) O que se lê é a obra do autor e não o autor.

Sinestesia

Troca ou aproximação entre sensações provocadas por sentidos diferentes. A aproximação pode ocorrer também no plano psicológico ou físico.

A reunião seguia tão tensa que dava para sentir a aspereza dos sentimentos e dos pensamentos de todos à volta da mesa.

Aspereza é sensação tátil, mas mistura-se com o abstrato (sentimentos, pensamentos).

Catacrese

Empréstimo de um termo a algo que não tem nome, tornando-se, assim, uma metáfora que, desgastada, é assimilada pela língua.

Acrescente dois dentes de alho.

Perífrase

Forma indireta de se referir a algo usando suas características.

A pátria de Voltaire é um belo país. (França)

Antonomásia

Perífrase referindo-se a pessoas.

O pai da aviação. (Santos Dumont)

Comparação

Comparação de elementos de modo que um assume a natureza do outro com base em determinado traço de semelhança – literal ou figurada – mediante uso de termo comparativo, como conjunção comparativa.

Parecia frágil como um passarinho.

Figuras de pensamento

São as figuras de linguagem que estabelecem uma relação pouco usual com a imagem mental evocada pelos termos.

Antítese

Antítese é a presença de ideias opostas num mesmo enunciado. É figura de muito uso pelos autores do estilo barroco.

Nasce o sol e não dura mais que um dia. Depois da luz, se segue a noite escura.

No fragmento, o poeta exemplifica a contradição do mundo, por meio das antíteses Nasce-não dura (morre), sol-dia, luz-noite escura.

Paradoxo

Constitui-se na presença, numa mesma frase, de duas ideias que, aparentemente, estabelecem uma ilogicidade surpreendente, remetendo, às vezes, ao conceito de absurdo. Mas apenas aparentemente o paradoxo contraria o senso comum, porque na verdade, principalmente pelo contexto em que se encontram, essas ideias encerram uma lógica, atingida, digamos, por vias tortas.

Amor é fogo que arde sem se ver, /É ferida que dói e não se sente. / É um contentamento descontente, / É dor que desatina sem doer.

Na tentativa frustrada de entender o amor, o poeta cria aparentes nonsenses. Como pode um fogo ardente não ser visto; uma ferida dolorida não causar dor; o contentamento conviver intimamente com o descontentamento?

Gradação

Esta figura, como implícito no nome, consiste em se atingir uma situação por meio de etapas sucessivas, crescentes ou decrescentes. Costuma ser presente em discursos de convencimento, como recurso de oratória.

O trigo … nasceu, cresceu, espigou, amadureceu. Colheu-se, mediu-se.

O exemplo é de gradação ascendente – vai de nascer a colher e medir (pesar).

Eufemismo

Figura de uso corrente na linguagem popular, por servir para amenizar uma realidade ou uma comunicação que se apresenta forte ou ruim, difícil.

Quando a indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou coroável),
Talvez eu tenha medo. Talvez sorria ou 
diga: – Alô iniludível!

O eufemismo, no exemplo de Manuel Bandeira, está na substituição de morte por a indesejada das gentes.

Perífrase

A perífrase, grosso modo, é típica de rebuscamento da linguagem. Caracteriza-se pela substituição de um ser ou situação por expressão mais longa, por um “rodeio”, circunlóquio.

A Cidade Maravilhosa tem sido vítima de seus bandidos, mas principalmente das autoridades ineficientes e negligentes que a governam.

A perífrase se dá na substituição de Rio de Janeiro por Cidade Maravilhosa.

Prosopopeia (Personificação)

Chamamos de prosopopeia ou de personificação à prática de dar capacidade de algum ser animado – racional ou não – a outro que não tenha essa capacidade.

Essa subida é antiga e dura. Já faz mais de mil anos que ali, o morro chora com o choro dos que vão subindo. É subindo e chorando, subindo e chorando.

A prosopopeia está na afirmação de que o morro chora, solidário com os que o sobem.

Apóstrofe

Ocorre apóstrofe quando se invoca ou se chama alguém ou alguma coisa, presente ou ausente. Por ser aplicado como recurso de retórica, de convencimento, costuma ser feita enfaticamente, com eloquência.

Galeraaaa!!! Todo mundo cantando comigo!!! Vamos lááá!!! O sol é o limite!!!

O exemplo está no vocativo galera.

Oximoro

Uso literário de palavras de significado oposto – que se anulam –, em relação ao mesmo referente, dentro do mesmo enunciado, criando-se uma imagem irreal ou absurda.

Olhar sereno mas incisivo, de uma castidade diabólica

Ironia

Emprego de palavra ou expressão suscitando o sentido contrário do que se pretendia dizer.

Muito engraçado! (em um contexto que não é engraçado)

Hipérbole

Emprego de termos que indicam exagero, usados para dar ênfase à mensagem.

Já lhe disse isso um milhão de vezes.

Figuras de construção ou sintaxe

São as figuras de linguagem relacionadas com algum afastamento do modelo da estrutura gramatical padrão, com o objetivo de reforçar ou enfatizar algum elemento significativo.

Elipse

Supressão de algum termo na frase ou até mesmo de uma oração. Identifica-se a elipse pelo entendimento do sentido do discurso.

As autoridades compareceram ao evento de carro ou helicóptero, o povo, a pé.

Foi omitida a forma verbal “compareceu”.

Silepse

Recurso empregado para concordância não com a palavra, mas com a ideia expressa por ela. Pode ser:

  • – de gênero: Rio de Janeiro é linda.
  • – de número: Os Maias é muito interessante.
  • – de pessoa: Os moradores desse bairro somos conformados já.

Assíndeto

É a supressão de conjunção coordenativa, para, em princípio, dar ideia de aproximação entre as ações ou seres.

A criança acorda, chora, mama, ri, chora, dorme de novo.

No período do exemplo, para passar a ideia de que as ações da criança aconteceram rapidamente uma atrás da outra, foram omitidas as conjunções aditivas “e”, inclusive a última, antes da forma verbal “dorme”.

Polissíndeto

Repetição de conjunção coordenativa – geralmente “e“ –, para um efeito sonoro ou sentido subjetivo.

Tudo ali me parecia vivo e nervoso e quente e forte.

O autor, por meio do “e”, representa a individualidade marcante de cada sensação referida na frase.

Zeugma

Omissão de um termo em sequência.

Todos escolheram o que comer, eu um prato, minha irmã uma porção e meu afilhado batata frita.

Pleonasmo

Repetição desnecessária de uma mesma ideia, às vezes com a intenção de se dar ênfase à mensagem.

Isso ocorreu há três meses atrás.
Vi com meus próprios olhos.

Anáfora

Repetição de uma palavra no início de verso ou frase.

“De tanto ser, só tenho alma./ Quem tem alma não tem calma./ Quem vê é só o que vê,/ Quem sente não é quem é.” (Fernando Pessoa)

Anacoluto

Quebra na estrutura lógica de uma frase.

Os homens de hoje, não se pode confiar em mais ninguém.

Hipérbato

Inversão da ordem canônica da língua portuguesa (sujeito + verbo + complemento).

“Do que a terra mais garrida/ Teus risonhos, lindos campos têm mais flores.”

Figuras de som

Figuras de linguagem que se referem a desvios na sonoridade da frase com o objetivo de enfatizar alguns sons e dar mais expressividade à frase.

Aliteração

Consiste na repetição intencional, para efeito sonoro, de fonema consonantal ou de um grupo deles. Tem uso na literatura em geral, na música e na brincadeira popular trava-línguas: O rato roeu a rolha do remédio da rainha que …

Vozes veladas, veludosas vozes, / Volúpias de violões, vozes veladas.

Estão evidentes as aliterações da consoante “v” e “c”. No exemplo, Cruz e Sousa confere musicalidade harmônica ao texto

Assonância

Repetição de vogal ou grupo de vogais em sílabas idênticas ou parecidas.

  1. Na tarde clara, arisca, áspera e alta, a asa risca o ar.
  2. A vida ainda é linda, / mesmo com a esperança / fina e finda.

Em “1”, para harmonizar com a tarde clara, o autor recorreu à assonância com a mais “clara” das vogais: o a. É possível, no mesmo exemplo, flagrar uma aliteração com a consoante “r”, provável referência ao sentido de rapidez, subentendido em arisca e risca. Em“2“, dá-se assonância nos grupos “in” e “inda”.

Onomatopeia

Palavra ou expressão derivada de sons.

Bem-te-vi, clique, tique-taque, uivar.

Aprenda mais em: Onomatopeia

Paronomásia

Semelhança sonora entre palavras.

O que não pôde Marte, pôde a morte.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

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