Português

Gêneros Literários

Entendemos por gêneros literários determinados modos de expressão formal da arte da literatura. Trata-se de uma maneira de categorizar e classificar peças e obras de literatura – e isso pode ocorrer de diversas maneiras: conforme a sintaxe, a semântica, o contexto, o tom e a fonética e assim por diante.

Das possíveis formas de classificação dos gêneros literários, a mais universalmente aceita tem origens greco-romanas e divide a literatura em três grandes gêneros principais: o lírico, o épico-narrativo e o dramático.

Gênero lírico

O gênero lírico é a expressão de um eu (uma subjetividade), sem a preocupação principal de relatar ações e histórias. Não por acaso, o gênero lírico é historicamente associado a textos de poesia, cantigas e alegorias. O lírico aproveita a musicalidade das palavras, as rimas e não necessariamente possui um compromisso com a narração e com a concretude. Tem a ver com a expressão de emoções e sentimentos.

O gênero lírico foi inicialmente consolidado na Grécia Antiga. Textos poéticos e alegóricos eram produzidos para que fossem cantados, ao som da lira, um instrumento musical de cordas, que deu origem ao nome do gênero.

Detalhe de vaso grego, em que aparece a lira.

O gênero lírico em geral envolve o texto poético. Poemas líricos podem ter uma forma fixa ou livre. Um poema é uma obra literária, um texto, normalmente apresentado sob a forma de versos e estrofes que podem ou não possuir rimas. Veja os principais elementos de um poema:

  1. Cada linha do poema é chamada verso, palavra originada do latim versu, que significa volta, significado este que queremos ressaltar;
  2. O agrupamento de versos é denominado estrofe, a qual recebe um nome específico conforme a quantidade de versos – dístico (dois versos), terceto (três), quarteto (quatro), e assim por diante;
  3. Existem composições em verso com um padrão de estrutura – são os poemas de forma fixa, em oposição aos poemas de forma livre;
  4. Entre os poemas de forma fixa, o mais conhecido é o soneto, composto por dois quartetos e dois tercetos.

O gênero lírico não apenas envolve a poesia lírica – ela é apenas parte desse gênero. Há diversas subdivisões e classificações no lirismo, dentre as quais podemos ressaltar:

  • A poesia lírica, que evoca e desenvolve os sentimentos e emoções do próprio poeta ou de uma pessoa que ele coloque como o centro do texto. O poema fala diretamente ao leitor e expressão o “eu poético”.
  • A poesia satírica, muito presente na Idade Média, irônicas e repletas de escárnio, usadas para efetuar críticas à política, à vida da corte e do clero.
  • A elegia, um texto geralmente produzido em “dísticos” e modernamente usada em poemas de tom terno e triste.
  • A ode, um poema mais solene e estruturado de forma sofisticada, para homenagear ou ressaltar um determinado aspecto.

E embora a poesia seja, na maior parte das vezes, associada ao gênero lírico, ela não é exclusiva a esse gênero. Podemos encontrar exemplos claros de poesia épica-narrativa e também dramática.

Gênero épico

Comparativamente ao lírico, o gênero épico é mais objetivo. No gênero épico, elementos textuais narrativos e cronológicos são mais importantes e evidentes – o narrador visa contar uma história ou desenvolver um enredo.

Esse gênero pode apresentar-se por meio da prosa ou de versos. Abrange as narrativas ficcionais de caráter não heroico (romance, conto, novela e fábula) e as epopeias, narrativas heroicas.

Epopeia: a epopeia é um texto narrativo que gira em torno dos feitos, aventuras e histórias de um ou mais heróis. Geralmente é um texto de grande extensão e envolve temas históricos, lendários e mitológicos. Na forma de versos, as epopeias são comumente chamadas de poemas épicos.

John William Waterhouse, Ulisses e as sereias, 1891.
A obra Odisseia já foi tema escolhido por diversos pintores. Um dos episódios retratados com recorrência é aquele em que Ulisses se faz atado ao mastro do navio como maneira de resistir à tentação provocada pelo canto das sereias. (John William Waterhouse, Ulisses e as sereias, 1891.)

Romance: o romance é a forma mais comum do gênero épico na atualidade. Boa parte dos livros que conhecemos obedece a essa estrutura. A narrativa do romance é apresentada em prosa e oferece um relato objetivo das personagens dentro de um enredo. Os elementos de estruturação da narrativa estão todos presentes: enredo, personagens, tempo e espaço, narrador.

Novela: a novela é uma forma intermediária entre o romance e o conto. Para muitos especialistas, ao contrário do romance, onde há várias ações paralelas, na novela o que ocorre é a concatenação de várias ações individualizadas – o que faz com que o clímax geralmente coincida com o desfecho.

Conto: o conto, em geral, é uma história completa e uma prosa mais breve e objetiva. Possui um único clímax e possui uma ação mais concentrada. De uma forma mais ancestral, o conto está ligado às lendas e a passagens da mitologia.

Fábula: narrativa de caráter alegórico, em verso ou prosa, com a finalidade de passar um ensinamento. Em geral, são ainda mais curtos e objetivos que os contos e frequentemente fazem uso da prosopopeia (personificação de animais, objetos inanimados e criaturas) .

Gênero dramático

Assim como o épico, o gênero dramático coloca em cena uma ação que se desenvolve em determinado espaço, durante uma parcela de tempo. A figura do narrador, essencial ao épico, não necessariamente faz sentido no gênero dramático. O drama é a manifestação escrita do teatro, da encenação. Mesmo quando existe a figura do narrador, essa figura constitui um narrador-personagem.

Fazem parte do texto dramático as rubricas, indicações a respeito do cenário, do modo de execução de um trecho musical, de uma fala ou um gesto do ator. Toda a construção do texto é imaginada para a circunstância da atuação – quando os indicativos e rubricas somem e mantêm-se apenas o diálogo. Descrições são transformadas em cenário, em figurino. E a eficácia da ação psicológica e dos diálogos apenas é atingida quando há qualidade por parte dos atores. São exemplos do gênero dramático a tragédia, a comédia e o auto.

Tragédia: na Poética de Aristóteles, a tragédia é definida como o texto que realiza imitação (do grego mímesis) de personagens nobres, envolvidos em paixões e conflitos desencadeados por estas. Muitas tragédias tratam de questões como a honra e o poder, como Édipo rei, de Sófocles. Exemplos mais modernos incluem desde peças de Shakespeare até peças famosas brasileiras do século XX, como Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues.

Comédia: peça de teatro em que predomina a sátira e a graça. Os comediógrafos procuram mostrar como os costumes e as excentricidades podem ser ridículos em algumas situações. Shakespeare mais uma vez é o grande autor da comédia em seu viés mais clássico, com exemplos como a A Megera Domada, porém autores mais recentes também criaram estilos únicos, tais como o “Teatro do Absurdo”, de Samuel Beckett.

Auto: composições dramáticas de caráter religioso, moral ou burlesco, representadas em apenas um ato, desenvolvidas ao longo da Idade Média. Os autos, comuns no contexto medieval, evoluíram até atingir peças mais modernas e próximas dos gêneros da comédia e tragédia. Exemplo disso é o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, peça que inclusive virou filme.

Por: Carlos Artur Matos

Veja também: