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Vírus

Os vírus (do latim virus, “veneno”) são estruturas que causam infecções, não possuindo células e tendo uma estrutura tão básica que, em suma, são apenas conjuntos de proteínas. Apesar de possuírem genes, a falta de uma estrutura celular básica os coloca à parte do reino dos seres vivos.

Ao contrário de outros organismos, os vírus não são formados de células. Como consequência, os vírus não possuem uma estrutura que permita a vida de forma autônoma – eles são praticamente máquinas capazes de reproduzir a si mesmos a partir da infecção a outros organismos, esses sim celulares.

Os vírus infectam células e, a partir disso, utilizam estruturas celulares e as reprogramam, de modo a construir novas cópias de si mesmos e conseguir recursos para propiciar a reprodução.

A descoberta do vírus

Os vírus foram descobertos pelos pesquisadores Dimitri Iwanowski (1864-1920) e Martinus Beijerinck (1851-1931), já no final do século XIX. Ao estudarem uma doença que afetava as plantações de tabaco, conhecida popularmente como “mosaico”, eles descobriram esses agentes. O mosaico alterava a coloração das folhas do tabaco, criando manchas verdes em tonalidades claras e escuras.

Iwanowski deduziu a presença dos vírus ao submeter extratos de folhas esmagadas e infectadas através de um filtro, conhecido como filtro Chamberland-Pasteur, que possui poros menores que bactérias. Ao passar a solução infectada pelo filtro e remover bactérias, Iwanowski descobriu que a infecção se mantinha presença – deduzindo assim a presença de um outro agente patógeno, de dimensões menores que as bactérias.

Contudo, devido ao tamanho microcelular dessas estruturas, os vírus foram apenas “vistos” de maneira real na década de 1940. O advento do microscópio eletrônico foi o que permitiu que essas criaturas pudessem de fato serem vistas e estudadas com maior profundidade. Nas décadas seguintes, diversas doenças que afligiam o homem seriam ligadas a agentes virais.

Características e tipos de vírus

Os vírus são muito pequenos, somente visíveis ao microscópio eletrônico. Sua estrutura não é biológica mas sim molecular. De maneira geral, eles são formados por uma cápsula externa de proteína, uma espécie de couraça, (que é específica para cada tipo de vírus), denominada capsídeo. O capsídeo protege o material genético viral, que dependendo da espécie pode ser constituído de um DNA, um RNA ou ambos.

Alguns vírus possuem uma estrutura envoltória adicional, derivada das membranas plasmáticas das células que infectam, denominada envelope viral. Esse tipo de vírus é chamado de vírus encapsulado.

Representação de diferentes tipos de estrutura dos vírus. Quando se considera uma única partícula viral, fora do hospedeiro, chamamos de vírion.

As proteínas presentes no capsídeo, ou na “casca” do vírus, possuem formatos específicos que determinam diretamente qual o tipo de célula que o vírus adota como hospedeira. Para ingressar nas células, atravessando a membrana celular, o vírus precisa possuir a proteína correta que oferece conexão com os receptores na membrana – uma espécie de “fechadura” que permite que apenas aquela proteína abra caminho. Existem vírus que infectam apenas plantas (vírus de plantas), animais (vírus de animais), bactérias (bacteriófagos) ou apenas fungos (micófagos).

Como os vírus agem

Os vírus não possuem metabolismo próprio. Desse modo, dependem de organelas presentes nas células que infectam para que possam sintetizar proteínas e moléculas e promover a sua própria multiplicação, em particular os ribossomos celulares.

Os vírus, assim que infectam o hospedeiro, injetam nele material genético. Uma vez que o material é liberado, ele “sequestra” o próprio mecanismo de reprodução celular, que deixa de produzir e sintetizar um RNA próprio e passa a fazê-lo em prol do vírus. O vírus comanda todo o organismo celular de modo a reproduzir-se. Entretanto, as células possuem em geral um mecanismo de defesa – uma proteína antiviral chamada interferon – que é expelida e impede que o vírus infecte células vizinhas ou próximas.

Nos organismos pluricelulares, o sistema imune tenta deter o avanço do vírus. No corpo humano, linfócitos específicos presentes no sangue identificam esse tipo de invasor e acionam agentes que contra-atacam os vírus.

O organismo possui anticorpos que reproduzem a proteína à qual o vírus se conecta nas membranas celulares dos hospedeiros, fazendo com que novos vírus se liguem aos anticorpos e não a células. Uma vez capturados, os vírus são destruídos por linfócitos.

Mutações

Assim como ocorre com outros seres, os vírus produzem mutações. A cada geração, pequenas modificações no material genético produzem novas gerações com mutações. Contudo, a reprodução viral ocorre em velocidades espantosas e, em um único dia, incontáveis novas gerações são capazes de produzir cepas completamente novas desses vírus.

Mutações bem-sucedidas nos vírus podem se estabelecer em populações inteiras em questão de semanas ou mesmo dias. Embora a maioria das mutações na verdade causem a morte do vírus, as poucas mutações de sucesso espalham-se rapidamente, com a capacidade de multiplicação desses seres, criando variações do vírus em ritmo espantoso e dificultando o combate às infecções.

Medicamentos

É difícil desenvolver drogas antivirais porque os vírus se reproduzem utilizando o material genético das células hospedeiras. Isso faz com que os medicamentos tendam a atacar tanto os vírus como as células infectadas. Além disso, alguns vírus têm desenvolvido progressivamente resistência aos remédios antivirais.

Ainda assim, a maioria das infecções virais mais comuns hoje em dia podem ser combatidas com vacinas que, de tempos em tempos, são alteradas para garantir o combate às novas mutações que surgem entre a população viral – um exemplo claro disso é a vacina contra a gripe, que conta com campanhas anuais.

Origem

A origem dos vírus não é clara, mas acredita-se que sejam formas de vida degeneradas, derivadas de organismos celulares ou pedaços de ácidos nucleicos que se separaram do genoma de formas de vida mais complexas, tendo adotado uma existência parasitária.

Uma vez que os vírus dependem de células completas para se reproduzir, é mais provável que esses seres tenham surgido na Terra após o surgimento dos primeiros organismos procariontes, como seus parasitas.

Viroses

Ao infectarem um hospedeiro, os vírus criam alterações no metabolismo desses organismos em nível celular, resultando na morte da célula parasitada. Esse processo causa infecções, chamadas de doenças virais ou viroses.

Cada vírus que infecta uma nova célula é capaz de criar centenas de cópias de si mesmo, produzindo uma rápida disseminação da infecção. A taxa dessa disseminação, que varia conforme cada vírus, é denominada virulência, resultando em surtos, endemias, epidemias e até mesmo pandemias.

Entre as viroses mais comuns, podemos citar a gripe, a hepatite, a raiva, a rubéola, o herpes, a poliomielite, a catapora e, mais recentemente, o Covid-19.

Veja mais em: Doenças causadas por vírus

Por: Carlos Artur Matos

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