Literatura

Análise Poética: Quental, Garret e Herculano

Pretende-se através deste estudo analisar e identificar elementos e pressupostos teóricos, sendo um desses elementos e pressupostos o tema e o que ele representa no desenvolvimento de cada criação literária. Daí, também, identificar traços comuns entre as criações poéticas de Antero de Quental, Almeida Garret e Alexandre Herculano.

E ainda será mostrado o contexto histórico de cada poeta e sua obras e daí o que elas representaram e influenciaram no processo de formação social, cultural e até mesmo econômico de Portugal.

Ainda neste estudo analítico, pretende-se mostrar o quanto Garret, Herculano e Antero, foram considerados através de suas criações, vultos de renome da literatura portuguesa e mesmo mundial.

Antero de Quental

Nasceu em Ponta Delgada (Açores), em 1842. Após os primeiros estudos na cidade onde nascera, aos treze anos vai para Coimbra, onde mais tarde, ingressa na Faculdade de Direito. Daí sofre um profundo abalo, pois de formação tradicional e católico, ao passar a ter contato com as ideias circulantes no meio acadêmico (História da Literatura Portuguesa).

Em “Tese e Antítese” de Antero de Quental, pode-se pensar o conflito ideológico gerado ao tomar conhecimento de outra realidade que possivelmente desconhecia, / já não sei o vale as novas ideias/, / Quando a vejo nas ruas desgrenhada/, / Torva no aspecto, à luz da barricada/,.

Observa-se também que diante de uma formação ideológica religiosa, bastante entranhada e com raízes profundas, parece daí gerar um outro conflito, ou seja, um conflito existencial onde possibilita o surgimento da contra verdade da adversidade.

“Mas o homem, na terra onde o destino?
O lançou, vive e agita-se incessante…
Enche o ar da terra o seu pulmão possante…
Cá da terra blasfema ou erguer um hino…”

E ainda pode-se observar um certo grau de resistência às novas tendências ideológicas que atentamente relata através da quarta estrofe:

“As ideias encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar chamas que crepitam, Paixões ardentes como vivo sóis”

Em “Na mão de Deus”, o poeta remete ao pensamento de que o seu conflito ideológico religioso e existencial tenha chegado a um resultado, ou seja, tenha o mesmo se encontrado:

“Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da ilusão
Desci passo a passo a escada estreita”.

Sabe-se segundo estudos literários de José Veríssimo, que os Sonetos são documentos que retratam a trajetória filosófica e moral de Antero de Quental, daí sua importância e complexidade temática. Os poucos sonetos que foi possível transcrever possibilita observar alguns momentos de evolução do poeta: Antero Quental.

Obras principais:

  • Odes Modernas (1865)
  • Raios de Extinta Luz (1892)
  • Cartas (1921)
  • Prosas (3 volumes entre 1923 e 1931)
  • Sonetos

Almeida Garret

João Batista da Silva Leitão de Almeida Garret, nascido em Porto e tendo morrido em Lisboa. Teve seus estudos formados pela linha eclesiástica, porém abandonou a batina e formou-se em direito pela Universidade de Coimbra.

Teve uma vida sentimental bastante atribulada em que sobressai o romance adultero com a viscondessa da Luz, esposa de um militar e considerada a grande e verdadeira paixão de Garret. Segundo estudos literários de José Veríssimo e ainda Massoud de Moisés (P.41).

Em “Este Inferno de Amor” pode-se perceber a influência de se amar um amor proibido e daí Garret externa seu conflito amoroso:

“Este Inferno de Amor – como eu amo!
Quem mo dôs aqui n’alma…quem foi?
Esta chama que alenta e consome, Que é vida – e que a vida destrói Como é que se veio a atear, Quando – ai quando se há-de ela apagar?”

Observa-se ainda nesta estrofe acima, que além da composição Ter sido realizada a partir de seu conflito amoroso, e ainda a dúvida e a incerteza desse amor proibido flutua entre interrogações e exclamações.

Neste sentido, é que José Veríssimo afirma que o poeta descreve uma ação, que possibilita a impressão de que tenha de fato, um pensamento experimentado realmente com a Viscondessa da Luz. Daí afirmar que seus poemas narram experiências vividas, em lugar de sugeri-las transfiguradas pela ficção.

Pode-se perceber ainda, que a frustração amorosa foi também um traço marcante nas composições poéticas de Garret, e isto pode estar ligado à seus envolvimentos amorosos. E em “O anjo Caído” retrata esta frustração amorosa:

“Era um anjo de Deus
Que se perdera dos céus
E terra a terra voava.
Partira do anjo traidor, Porque as penas que levava Não eram penas de amor.”

Daí, vale pensar que o Amor, Ódio e Morte, são elementos evidentes em / Não Te Amo / e / Destino /, onde o poeta retrata sua desilusão e busca na morte, uma possível solução para resolver seu conflito amoroso e ainda, a negação deste amor desejado.

“Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Que ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua Perdição?
“Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela
Como a todo e entre o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.”

Sabe-se também, segundo Luft em “Dicionário de Literatura Portuguesa e Brasileira, que Almeida Garret é a mais complexa figura do romantismo português por ele inaugurado, e que sua carreira literária pode ser dividido em três fases: a anterior aos exílios e a iniciação romântica; a fase de iniciação romântica; a fase da maturidade artística.

Obras importantes:

Poesia: 

  • Camões (1825)

Prosa:

Alexandre Herculano

Nasceu em Lisboa, não cursou nenhuma Faculdade. Após estudar com os Oratorianos, seguiu seu curso de inglês e alemão na Aula do Comércio Diplomático na Torre do Tombo. Através de suas ideias liberais, desgostam o clero, com o qual entra em polêmica em 1850, segundo José Veríssimo em História da Literatura Portuguesa.

Pode-se em “A Cruz Mutilada”, perceber um certo grau de conflito ideológico religioso e mesmo um conflito existencial estabelecido pelos ideais clericais e as ideias liberais adquiridas posteriormente.

“Amo-te, oh cruz, no vértice firmada
de esplêndidas igrejas;
Amo-te quando à noite, sobre a campa,
Junto ao cipreste alvejas;
Amo-te sobre o altar, onde, entre incenso
A preces te rodeiam;”

“Se mistura nos cânticos saudosos,
Que a natureza envia ao céu no extremo
Raio de sol, passando fugitivo
Na tangente deste orbe, ao qual trouxeste
Liberdade e progresso, e que te paga
Com a injúria e o desprezo, e que te inveja”

Até, na solidão, o esquecimento Daí pode-se também, pensar que o poeta mergulhado em uma dúvida existencial busca através de seus versos, denunciar sua angústia que flutua entre o desejo de liberdade de pensamento e proibição clerical.

“Cruzado aperta ao seio
A mães e o filho seu
Que busca, mal nasceu,
Fontes da vida e amor.”

Neste sentido, é que Luft afirma ser o poema “A Cruz Mutilada”, um documentário, porém, o consórcio operado entre o cristianismo e a revolução romântica, preconizado por Chateaubriand com o seu O Gênio do Cristianismo, e efetuado por tantos escritores durante o século XIX.

Vale salientar, que entre o conjunto de poemas do poeta, os que se referem a guerra civil e ao exílio, é um dos raros testemunhos poéticos da grande crise social da instauração do liberalismo em Portugal, segundo Saraiva em História da Literatura Portuguesa (P.767).

“Meu pobre Portugal, hei-de chorar-te”

Obras principais:

Poesia:

  • A Cruz Mutilada (1849)
  • A Harpa do Crente

Romance:

Conto: Lendas e Narrativas (1851)

Historiografia: História de Portugal (1853)

Conclusão

Diante do estudo realizado que buscou nas composições poéticas de Alexandre Herculano, Almeida Garret e Antero de Quental, pode-se perceber que a influência religiosa fora de certa forma marcante para suas realizações. É que suas participações como intelectuais, compositores poéticos e romancista, foram de fundamental importância para o reconhecimento cultural, político e mesmo econômico na construção de Portugal.

Daí deva-se concluir, que suas obras se tornaram imortais e não ocorrera por um mero acaso, e sim por suas obras se apresentar como testemunho de uma época, onde pode-se observar a revolução de comportamento, pensamento e costumes de seus patrícios.

Assim, Garret, Herculano e Antero, são sem dúvidas, marco referencial da historicidade de Portugal, referendados neste estudo literário.

Autoria: Arthur Corrêa Peixoto