Administração

Como o Trabalho se Transforma em Mercadoria

O Capital transforma tudo em mercadoria, isto é, algo objetivamente mensurável e substituível por uma abstração quantitativa – o dinheiro. Nem mesmo o ser humano conseguiu escapar. Por ser prático, objetivo e auto criador, o homem foi alienado de sua essência sob o domínio do Capital.

Todos os homens são livres e iguais, enquanto vendedores e compradores de mercadorias. Consequentemente, aqueles que não têm mercadorias para vender (que outrora seriam escravos ou servos e que agora são os proletários, a quase totalidade da população) são forçados a escolher: a morte ou a venda do que ainda lhes pertence, os braços, as mãos, os pés, o sentimento, o raciocínio, os gestos… sua essência humana, sua atividade vital, sua existência criativa, sua força-de-trabalho em troca de um salário.

Desse modo, o ser humano é constrangido a aceitar a mais desigual das trocas: a da vida pela sobrevivência, sendo forçado pela necessidade a fazer de suas aptidões um objeto de consumo e vendê-las no mercado de trabalho. Tendo conseguido vender sua força-de-trabalho, a realização do proletário se torna sua desrealização, a afirmação do proletário se torna a negação de si como homem, pois o trabalhador não age como ser humano, mas como força-de-trabalho, como mercadoria, subordinado à vontade do capitalista, em troca de um salário.

O capital reduz toda atividade humana a trabalho e toda realização do ser humano a mercadoria. Tudo que os trabalhadores fazem existir por meio de suas atividades (alimentos, ruas, cadeiras, poemas, meios de produção, computadores, casas…) é radicalmente separado deles e se torna propriedade privada do que ou de quem comprou sua força-de-trabalho. Com isso, a atividade dos homens se coagula numa esfera separada, que se volta contra os próprios homens que a produziram, sua alienação é total.

Nessas condições, quanto mais os homens transformam a realidade (todos os aspectos do mundo), tanto mais essa realidade se torna estranha e hostil para eles, tanto mais eles se sentem estranhos em seus próprios atos e hostis para si mesmos, enquanto reproduzem ampliadamente sua própria condição de vendedores da mercadoria força-de-trabalho, desvalorizando-se ao produzir mais-valia.

Essa crescente reedificação da atividade passada (trabalho morto), que suga a atividade viva do trabalhador é o Capital, cujos proprietários – os capitalistas – podem ser indivíduos (como nos EUA, Brasil etc.) ou Estados (em Cuba, China, Coreia do Norte etc.).

A recorrente crise econômica que impregna a “globalização” demonstra que o atual desenvolvimento das forças produtivas não mais permite que o valor, em escala mundial, seja produzido e mensurado pelo trabalho vivo, que, com a aplicação da robótica e da microeletrônica, tende a ser anulado no processo produtivo. Portanto, o dinheiro começa a perder seu fundamento, fica “sem pé nem cabeça” e a crise se agrava ininterruptamente. Doravante, a sobrevivência do Capital é sua autofagia, sua autodestruição – ele já não pode dar um passo sem tropeçar nas próprias pernas. Desse modo, a luta pela abolição revolucionária do trabalho, hoje uma necessidade óbvia, não pode mais ser acusada de utópica, uma vez que o capitalismo mal sobrevive à lembrança espectral dos “tempos prósperos”.

No atual estado de coisas, toda reforma é simples maquiagem da crise do Capital. É o próprio capitalismo que torna sua condição de possibilidade, o trabalho assalariado, impossível. Portanto, a revolução social é a única perspectiva, além de humana, realista e necessária. Trata-se, nada mais nada menos, de o ser humano se auto instituir como única medida de todas as coisas, abolindo o dinheiro, o trabalho e o Estado. Trata-se, pois, de efetivar a comunidade humana mundial, na qual as forças produtivas disponíveis serão direcionadas para realizar concretamente os seres humanos em suas atividades, como tais: poesia, gozo, arte, inseparáveis entre si e da vida como um todo. A economia e a política serão extintas, juntamente com as demais esferas separadas, alienadas e especializadas, com a destruição do Estado e a supressão do Capital. A essência humana será a comunidade dos indivíduos livremente associados, na cotidiana atividade de transformação das circunstâncias e de si mesmos, atividade que enfim lhes permitirá tornarem-se seres humanos, com e para os outros.

Histórico da organização do trabalho

O trabalho sempre esteve presente na história da humanidade, sendo seu objetivo inicial, sobrevivência. Porém, com a Revolução Industrial, passou-se a o lucro e para obtê-lo era preciso mão-de-obra de baixo custo, fato que teve como consequência à exploração dos trabalhadores.

Essas características pertencem ao modo de produção capitalista, que se consolidou na Inglaterra, através da primeira Revolução Industrial, que ocorreu no final do século XVIII e foi possível graças ao acúmulo de capital, conquistado através do mercantilismo. A partir daí, surgem às fábricas, há o uso de máquinas a vapor, ocorre uma maior divisão do trabalho e, consequentemente, o aumento da produção. O capitalismo desde sua origem é um sistema de exploração da mão-de-obra, pois já nessa época houve a concentração de riquezas nas mãos dos grandes proprietários capitalistas.

Na segunda metade do século XIX, houve a segunda Revolução Industrial, a qual foi a inserção de outros países nesse processo, proporcionando assim, a expansão do capitalismo, sendo a passagem do capitalismo competitivo para o monopolista, com formação de grandes empresas e a fusão do capital bancário com o capital industrial. Houve o progresso técnico-científico, possibilitando o desenvolvimento de novas máquinas, utilização do aço, do petróleo e da eletricidade, evolução dos meios de transporte e expansão dos meios de comunicação.

Na década de 1970, de acordo com MAGNOLI (1995) ocorreu a terceira Revolução Industrial, a qual alterou o panorama produtivo mundial, devido ao surgimento de tecnologias microeletrônica e da transmissão de informações sobre a automatização e robotização dos processos produtivos. Além disso, surgiram novos ramos industriais, como a indústria de computadores e softwares, telecomunicações, química fina, robótica e biotecnologia, os quais caracterizam-se por utilizarem mão-de-obra qualificada.

Deste modo, as indústrias se difundem por todo o mundo em busca de mercado consumidor, matéria-prima mais barata e acentua-se a exploração do trabalhador, visando a acumulação de capital. Segundo COHN & MARSIGLIA (1999, 59) o controle do processo de trabalho é importante para esta acumulação devido ao fato de os trabalhadores produzirem através de formas cada vez mais avançadas de divisão do trabalho.

De acordo com MARX apud COHN & MARSIGLIA (1999, 60) com a dinamização do processo de produção, passou-se a investir em uma organização de trabalho mais lucrativa, visando uma maior produção em um menor tempo.

Momentos característicos do processo de trabalho na história do modo de produção capitalista:

Cooperação Simples – o trabalhador executa diversas atividades, correspondentes às do artesão, utilizando ferramentas deste. O controle capitalista ocorre devido à relação de propriedade, utilizando-se da força de trabalho comprada pelo dono da mesma.

Manufatura – Há nova divisão do trabalho, na qual os trabalhadores executam tarefas parceladas, dando início a uma desqualificação do trabalho e aumento da produtividade, ocorrendo à separação entre concepção e execução do trabalho.

Maquinaria – Acentua-se a divisão entre concepção e execução do trabalho, há inserção de máquinas no processo de produção, ocorrendo desqualificação do trabalhador, uma vez que realizam tarefas isoladas, impedindo de conhecer todo o processo de trabalho.

Devido a essas características, a maquinaria possibilita diferentes formas de divisões e organizações do trabalho:

Maquinaria Simples – O trabalhador mantém algum controle no seu ritmo de trabalho, tendo liberdade para acionar as máquinas, fato que é estimulado através de remuneração por produção.

Organização Científica do Trabalho – O ritmo de trabalho é determinado pela máquina, ocorrendo separação extrema entre concepção e execução do trabalho. No Taylorismo há a redução máxima do tempo gasto para executar cada tarefa, fracionando o processo de trabalho em tarefas simples. Já no Fordismo há um ordenamento sequencial de tarefas, utilizando-se de uma esteira, que define o ritmo de trabalho.”

Automação – Este item foi incluído neste processo por Freyssenet, uma vez que através do desenvolvimento técnico-científico, a função do trabalhador se restringe a vigilância do processo produtivo.

Teorias modernas de administração

Defendem a tese que o homem tem necessidades básicas e psicossociais. Propõem a participação do mesmo no processo de organização da produção, incentivando a comunicação, desenvolvendo a motivação no trabalho, descentralização nas decisões, delegação de autoridade, consulta e participação dos trabalhadores.

Para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade, passou-se a utilizar princípios da administração japonesa na organização do trabalho, sendo este um novo paradigma de produção industrial, iniciado na década de 60. Este é denominado de Toyotismo e segundo Bezerra Mendes (1997, 57) “pressupõe a polivalência dos trabalhadores, a fabricação de produtos diferenciados, a responsabilidade com o mercado e uma estrutura organizacional que comporte mudanças e inovações constantes, bem como a mudança da relação social no trabalho e a participação dos trabalhadores no sistema produtivo”.

Para Bezerra Mendes (1997) a participação dos trabalhadores nas decisões e transformações referentes à organização do trabalho é essencial à promoção da saúde mental, bem como para a melhoria da qualidade de vida no trabalho e do trabalhador.

Destaca-se que há algumas condições da flexibilização na organização do trabalho que proporcionaria maior qualidade de vida no trabalho, como:

  • A integração e globalização dos processos, métodos e instrumentos de trabalho;
  • O conteúdo significativo das tarefas, a autonomia, o uso das competências técnicas e da criatividade;
  • As relações hierárquicas baseadas na confiança, cooperação, participação e definição de regras pelo coletivo de trabalhadores”.

Essas condições contrapõem os modelos de organização do trabalho clássicos, fazendo com que através do novo paradigma, os trabalhadores sintam-se integrantes do processo produtivo, valorizando suas tarefas, aumentando sua autoestima e contribuindo para melhorar sua qualidade de vida e satisfação no trabalho, deixando de ser apenas uma mercadoria.

Por: Pedro Roberto Cardoso

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