Biografias

Tancredo Neves

O político, advogado e empresário mineiro Tancredo Neves (1910-1985) teria sido o primeiro presidente civil desde a Revolução de 1964, sendo eleito indiretamente pelo Congresso Nacional, mas morreu pouco antes de assumir o cargo, sem sequer ser empossado.

Biografia

Filho de Antonina de Almeida Neves e Francisco de Paula Neves, Tancredo de Almeida Neves nasceu em São João Del Rei, Minas Gerais. Desde seus primeiros anos recebeu uma forte influência política de seu pai, que incentivava a leitura da obra de grandes políticos, juristas e estudiosos brasileiros, como Rui Barbosa. Filho de comerciantes, Tancredo era o quinto de doze irmãos – possuía ascendência portuguesa e austríaca e sua árvore genealógica aponta como um dos ancestrais o afamado governador da capitania de São Vicente, Amador Bueno.

Em sua juventude, Tancredo teve algumas frustrações em relação à escolha da sua profissão. Quase foi militar, e também quase seguiu carreira na medicina, porém acabou por formar-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Antes de ingressar na política, Tancredo exerceu a profissão de advogado e foi inclusive promotor público em São João Del Rei, mas por pouco tempo.

Ingressou na política pelo PP (Partido Progressista) em 1935, como vereador e presidente da Câmara Municipal. Já no começo de sua carreira, esbarraria com atividades ditatoriais e autocrática – seu mandato foi suspenso ao fechamento do legislativo nas instâncias municipais, estaduais e federais durante o Estado Novo, sob o comando de Getúlio Vargas.

Em 1947, na pós-ditadura Vargas, ingressou no PSD (Partido Social Democrático), elegendo-se deputado estadual. Ocupou o cargo máximo do Ministério da Justiça e Negócios (1953-1954) até o suicídio de Vargas. Nesse período, enfrentou forte pressão da UDN (União Democrática Nacional), que buscava apoio dos militares para derrubar o então presidente Vargas. Aqui estariam as bases da sua rivalidade e oposição aos militares.

Tancredo teve também um papel importante na defesa constitucional e foi um dos articuladores da campanha de Juscelino Kubitschek, eleito em 1955. No governo JK (1956-1961), foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). Após a saída de Kubitschek, e depois da renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, e ainda no PSD, foi nomeado primeiro-ministro no governo de João Goulart. Durante o governo Jango apaziguou muitas disputas e instabilidades com os militares e outras correntes mais radicais do poder político.

Mas a Ditadura Militar se tornou realidade em 1964. Com o decreto do AI-2 (Ato Institucional nº 2), que instituiu o bipartidarismo, Tancredo deixou o PSD, extinto, e ingressou no único partido de oposição “legalmente permitido”, o MDB, onde alcançou prestígio, tornando-se um dos líderes da chapa.

Após 1978, quando foi novamente retomado o pluripartidarismo, teve um papel crucial na fundação do Partido Popular, o PP, em 1979, que depois seria fundido ao MDB para a formação do PMDB. Já na nova legenda, como vice-presidente, foi eleito governador do estado de Minas Gerais em 1982.

A partir de 1983, Tancredo já manifestava seu apoio a uma campanha nacional pedindo eleições diretas, participando ativamente do movimento ‘Diretas Já‘, que levou a população às ruas pela redemocratização. A exposição no movimento criou uma imagem forte de Tancredo em nível nacional, como fez com Ulysses Guimarães e Leonel Brizola.

Em 1985 foi eleito presidente da República de forma indireta, tendo como vice o senador José Sarney. Embora eleito ainda no governo do militar João Figueiredo, a posse de Tancredo inauguraria o fim da ditadura e do regime de exceção. Vencendo Paulo Maluf, do PDS, o político mineiro seria o primeiro dos presidentes pós-ditadura.

Foto de Tancredo Neves em frente à Esplanada dos Ministérios, Brasília
Tancredo Neves em foto de fevereiro de 1985. Ao fundo, a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Fonte: O Globo.

A morte de Tancredo Neves

Na véspera de assumir a presidência, em 14 de março de 1985, Tancredo foi internado em estado grave com fortes dores abdominais, passando por uma cirurgia. O político acabou passando por sete cirurgias e teve enormes complicações – em tese, havia sido vítima de uma diverticulite, porém alguns registros apontam um câncer. Faleceu em 21 de abril de 1985, no Instituto do Coração, em São Paulo. O seu vice, o senador José Sarney, assumiu a presidência.

A morte de Tancredo Neves criou grande comoção nacional, levantando inclusive uma série de teorias da conspiração a respeito de sua morte – cujos registros médicos nunca pareceram ter sido questionados.

Sua forte imagem e importância histórica foi, inclusive, um dos pontos mais fortes na ascensão política de seu neto, Aécio Neves, que como o avô viria a disputar a presidência do país – embora viesse a ser derrotado em eleições diretas.

Por: Carlos Artur Matos

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