Geografia do Brasil

Rio Tietê

Pela maior capital brasileira, que abriga um dos mais importantes centros econômicos do país, cruza um rio por uma de suas principais marginais (conjunto de avenidas), a qual, inclusive, leva seu nome. Este rio é o Tietê.

Tietê, segundo o dicionário de tupi-guarani, significa rio caudaloso, volumoso ou rio verdadeiro. Anteriormente chamado de rio Anhembi pelas populações indígenas que habitavam a região, o nome ficou a cargo dos bandeirantes, que exploraram e colonizaram o interior do estado de São Paulo.

Mais do que um rio interiorano (que corre no sentido do interior, e não em direção ao oceano), o qual, por causa da poluição, praticamente não tem mais vida no trecho que passa pela capital paulista, sua nascente tem importância histórica. Os bandeirantes usavam o rio para adentrarem no interior do estado e, assim, seguir na conquista territorial e na fundação de vilas e povoados, muitos dos quais originaram as atuais cidades localizadas em suas margens.

Nascente

O rio tietê nasce em Salesópolis, cidade localizada na região da Serra do Mar. Essa cidade é uma estância turística, com destaque para o ecoturismo, isso porque a nascente está localizada no meio da mata, a uma altitude de 1.027 m, no Parque Estadual Nascentes do Tietê.

Nascente do Rio Tietê.
Imagem de um dos pontos que jorra água. Parque Estadual Nascentes do Tietê. Salesópolis, SP.

A criação do Parque Estadual que abriga a nascente é recente, assim como também é atual o conhecimento exato de sua localização, revelado em 1954, pela Sociedade Geográfica Brasileira, após observações, estudos e mapeamentos do curso do rio.

A região pertencia anteriormente ao município de Paraibuna, fronteiriço ao município de Salesópolis. Na época, a área da nascente encontrava-se degradada, pois estava inserida nas terras de um pecuarista local. Antes disso, a área havia sido explorada para fins de extrativismo vegetal, com a produção de carvão, para suprir a indústria siderúrgica.

Foi apenas após o seu tombamento, realizado  pelo Conselho de Defesa do Patrimônio, Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), no ano de 1990, que a área passou a ser recuperada para fins de conservação, seguida de sua desapropriação, em 1996, para a criação do Parque Estadual.

O trajeto do Tietê

O rio Tietê percorre o estado de São Paulo de Leste a Oeste, numa extensão de 1.150 km, passando por 62 municípios, desaguando no rio Paraná.

Nasce nas escarpas da Serra do Mar, a 840 m de altitude, no município de Salesópolis. Como não possui força para ultrapassar os picos rochosos no sentido do litoral, ao contrário da maioria dos rios que vão em direção ao mar, segue rumo ao interior do estado.

Na cidade de Mogi das Cruzes, a 45 km de sua nascente, o rio começa a ser poluído e é na região metropolitana de São Paulo, juntamente com a foz do rio Tamanduateí, que apresenta a sua pior condição de poluição e contaminação.

No trecho de Itu, Porto Feliz e Salto as quedas e desníveis topográficos contribuem para oxigenar as águas do rio e amenizar sua poluição.

Seguindo em direção à região central do estado, este rio percorre rochas vulcânicas e serras até chegar em Barra Bonita. Lá, seu aspecto nada se assemelha com o rio que cruza a cidade de São Paulo: é volumoso e navegável.

Segue até o município de Itapura, na divisa entre o estado de São Paulo e o do Mato Grosso do Sul, onde desemboca no rio Paraná.

O Tietê possui grande aproveitamento hidrelétrico. Em seu curso encontram-se as usinas hidrelétricas de Barra Bonita, Bariri, Ibitinga, Promissão e Nova Avanhandava.

Seus principais afluentes são os rios Tamanduateí, Juqueri, Aricanduva, Pinheiros, Jundiaí, Sorocaba e Piracicaba.

A poluição do rio Tietê

As ações predatórias contra o Tietê começaram na época da colonização do território. Com o crescimento de São Paulo, a situação piorou. Na década de 1940, o rio já estava praticamente morto.

Para acompanhar a expansão urbana da região, o Tietê foi escolhido como o grande provedor de energia elétrica logo depois que a Light colocou em funcionamento uma rede de bondes metropolitanos em 1899.

Além de São Paulo, a empresa canadense concessionária da exploração dos serviços urbanos na capital também passou a gerar e distribuir energia para outras oito cidades vizinhas.

Segundo os estudiosos, essa foi a “pá de cal” que enterrou definitivamente o rio Tietê: a cidade cresceu, os transbordamentos se multiplicaram e o lixo se avolumou sem que ninguém realmente se preocupasse com a poluição de suas águas. Afinal, elas serviam apenas para gerar energia, nunca para beber.

Mas os técnicos se surpreenderam quando, nos anos de 1940, constatou-se que a água do rio “queimava as plantas” ao ser utilizada para irrigar hortaliças e plantas ornamentais. E, pior: quando feitas as contas, descobriu-se que São Paulo teria de gastar cerca de 2,5 bilhões de dólares até 2010 para garantir o abastecimento público de água potável para a população.

Turvas, contaminadas e represadas, as águas do rio espelham hoje o desinteresse da cidade pelo destino do Tietê. Além de um solitário jacaré de nome “Teimoso” e sua companheira tartaruga, vistos pela última vez em 1996, nada mais vive por lá, a não ser o esgoto doméstico ou industrial.

Projetos de despoluição

O primeiro projeto de despoluição do Tietê é de Plínio Queiroz e data de 1927. Consistia em lançar os esgotos de São Paulo Serra do Mar abaixo, através de emissários, e, ao mesmo tempo, aproveitar o potencial hidrelétrico do rio para gerar energia; A ele muitos outros se sucederam sem que nenhuma iniciativa concreta fosse adotada.

No ano de 1971, o projeto “Solução integrada” visava orientar os esgotos para algumas lagoas no Vale do rio Juqueri – região afastada da cidade e dela separada pela Serra da Cantareira – e ali tratá-los. Iniciado pelo governador Laudo Natel no início dos anos de 1970, foi abandonado por Paulo Egídio Martins, que o substituiu pelo Sanegran, para dar prioridade ao saneamento e não à geração de energia.

Sob pressão popular, o Sanegran foi descartado em 1983, depois de ter consumido mais de 100 bilhões de cruzeiros. O governo Montoro, por sua vez, decidiu aproveitar o projeto parcialmente encaminhado, já que se havia gasto tanto.

Projeto Tietê

O mais recente projeto de despoluição do Tietê data de 1990 e visa aliviá-lo de cerca de 1.300 toneladas de resíduos industriais e domésticos. O primeiro foco foram as indústrias que passaram a ser assiduamente fiscalizadas e multadas.

No início de 2002, a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo iniciou um processo de despoluição do rio por meio de flotação – técnica já utilizada na despoluição do lago do Parque do Ibirapuera, por exemplo. Por esse processo, a sujeira da água é agregada em flocos, a partir de reações com agentes químicos coagulantes.

Contudo, em 2006, os níveis de poluição voltaram aos altos índices do início da década de 1990, já que o tratamento de esgoto não foi implementado em sua totalidade.

O Tietê de antigamente

No início do século XX, paulistanos divertiam-se nas águas do Tietê. Em dias de regata, a Ponte Grande, substituída pela Ponte das Bandeiras nos anos de 1940, era ponto de encontro da alta sociedade paulistana, que também freqüentava algum dos numerosos clubes instalados às margens do rio – o Regatas Tietê, o Floresta (Espéria), a Associação Atlética São Paulo ou a Clube Alemão.

Em tempo de festas religiosas, era comum a população deslocar-se para o interior, onde o rio se tornava palco de comemorações, como o “encontro das canoas”, na Festa do divino, na cidade de Tietê.

O rio também sediava competições de natação. Em uma das últimas disputas na tradicional Travessia de São Paulo a Nado, nos anos de 1940, o robusto atleta carioca João Havelange, do Fluminense F. C., foi contaminado por suas águas já poluídas e pegou febre tifoide. Nunca mais ninguém ousou desfrutar o rio.

Veja também: