Geografia

Geopolítica do Petróleo e o Oriente Médio

A utilização das fontes energéticas, como o petróleo, não está vinculada apenas à disponibilidade de recursos, mas também a questões políticas envolvendo os países detentores das maiores reservas, as grandes empresas produtoras e os principais consumidores mundiais.

Ao final da Segunda Grande Guerra Mundial, ocorreram algumas mudanças significativas no cenário geopolítico mundial. No caso da Ásia Ocidental, detentora das maiores reservas mundiais de petróleo, ocorreu um rápido processo de descolonização.

O enfraquecimento das principais potências europeias permitiu o fortalecimento de muitos movimentos nacionalistas, em grande parte sustentados pelo ideário islâmico, como, por exemplo, no Irã, onde o Estado nacionalizou a exploração petrolífera em 1951, inclusive a empresa britânica British Petroleum, que atuava em seu território.

Porém, com o apoio dos EUA, o Reino Unido boicotou economicamente o Irã e o ameaçou militarmente, o que resultou na deposição do governo nacionalista na formação de um governo pró-ocidental chefiado pelo xá Reza Pahlevi. Mas, apesar disso, nos demais países produtores, a pressão sobre as grandes companhias monopolistas continuava.

À medida que aumentava sua importância no cenário internacional, as disputas pelo fornecimento do petróleo se acirravam. Grandes empresas do mundo ocidental desenvolviam-se com a finalidade de garantir o fornecimento crescente do petróleo para seus países-sede. Até meados do século XX, praticamente toda a produção e a distribuição do petróleo mundial estavam a cargo das, assim denominadas, “sete irmãs”.

Geopolítica do petróleo.
Oriente Médio, área onde estão localizadas as maiores reservas e os maiores exportadores mundiais de petróleo.

No mesmo período, fruto da conferência de Bandung, surge o movimento dos países não alinhados, como forma de conseguir maior independência das duas superpotências (EUA e URSS) e uma das propostas era a de ter maior controle sobre as riquezas naturais e matérias-primas. Dentro desse contexto é que se forma a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), composta de países do Oriente Médio, Ásia, África e América Latina.

A partir de 1960, a Opep começa suas atividades, formando um verdadeiro cartel sobre os preços internacionais do petróleo.

Em 1956, foi a vez do Egito de desferir duro golpe contra as Sete Irmãs, nacionalizando o canal de Suez, o que impedia trânsito livre entre as áreas produtoras do Oriente Médio e o mercado europeu, além de encarecer os custos de transporte. O conflito envolveu franceses, ingleses, judeus e árabes e só foi solucionado com a mediação dos EUA e da URSS, que exigiram o fim do conflito na região e a normalização do fornecimento de petróleo.

Em 1967, outra questão geopolítica envol­via o Oriente Médio e novamente entre árabes e israelenses. Foi a guerra dos Seis Dias, onde, após investida dos países do levante árabe, Is­rael ocupou territórios do Egito (Sinai e Faixa de Gaza), da Síria (colinas de Golã) e a Cisjor­dânia

Um dos episódios mais conhecidos, envolvendo a organização, foi o ocorrido em 1973, logo após uma das guerras árabe-judaicas, a chamada de Yom Kippur (dia do Perdão). A derrota árabe para os israelenses provocou, como represália, a elevação dos preços do petróleo pela Opep, o que ficou conhecido como primeiro choque do petróleo.

A intenção, além de elevar os lucros dos países exportadores, foi de prejudicar especialmente os EUA e alguns países europeus que apoiaram Israel. Como a maioria dos países-membros era árabe, não é difícil entender a medida tomada pela organização. A consequência foi uma imediata crise de abastecimento e um quadro econômico recessivo na maioria dos países importadores, o que gerou a necessidade de buscar novas fontes e uma proposta que minimizasse as crises do capitalismo: o neoliberalismo.

A segunda onda de elevação dos preços in­ternacionais do petróleo, já sob o comando da Opep, ocorreu em 1979, motivada pela deposi­ção, no Irã, do governo do xá Reza Pahlevi por revolucionários xiitas, comandados pelo, então exilado, líder religioso aiatolá Khomeini. O epi­sódio ficou conhecido como a revolução Islâmica e reconduziu o país a uma linha ideológica anti-imperialista, o que novamente restringia a ação de empresas estrangeiras e o fornecimen­to de petróleo para o mundo ocidental.

Os EUA tentaram a todo custo inviabilizar o governo de Khomeini, instigando o vizinho Iraque e seu ditador Saddam Hussein a atacar o Irã. Foi nesse contexto que ocorreu a guerra Irã-Iraque (1980-1988), a qual não teve vencedor.

Em meados dos anos 1980, o aumento da produção e a diminuição da dependência em muitos países obrigaram a uma queda de preços, o que ficou conhecido como o terceiro choque do petróleo.

Nos anos 1990, a guerra do Golfo, envolvendo Iraque e Kuwait, levou novamente os EUA, maior consumidor mundial de petróleo, a intervir militarmente na região. Com o aval da ONU, os estadunidenses desembarcaram no Golfo Pérsico para expulsar os soldados iraquianos, antes seus aliados.

Ao se retirarem, os soldados iraquianos destruíram e atearam fogo em poços de petróleo, causando uma das maiores catástrofes ambientais já registradas na região. Os estadunidenses enfrentavam aqueles a quem haviam recorrido quando seus interesses eram outros.

Finalmente, já no início do século XXI, e desta vez sem o aval do ONU, sob a alegação de que o Iraque possuía armas químicas e biológicas, tropas dos EUA e da Inglaterra invadiram o Iraque, depuseram Saddam Hussein, assassinaram seus filhos e ocuparam o país, passando a controlar, assim, grandes áreas produtoras de petróleo.

Apesar de as reservas tenderem a se esgotar e o seu uso ainda ser muito alto, novas perspectivas energéticas estão surgindo, como os biocombustíveis, o reaproveitamento de materiais (reciclagem) e a exploração da energia solar e da eólica.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

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