História do Brasil

Sociedade Imperial Brasileira

Ao longo dos Primeiro e Segundo Reinados, a sociedade brasileira passou por muitas mudanças, como a expansão da cafeicultura, o início da industrialização e a urbanização relacionada a esses fatores. Hábitos se sofisticaram, e a desigualdade aumentou.

A vida nas cidades

O desenvolvimento socioeconômico associado à expansão capitalista da cafeicultura transformou o Brasil independente. Uma das principais mudanças foi o intenso processo de urbanização, em especial durante o Segundo Reinado.

Nas cidades maiores, o comércio e os bancos se dinamizaram. As ruas eram cada vez mais movimentadas, com escravos vendendo produtos e prestando pequenos serviços. Eram os “escravos de ganho“, que dividiam os lucros com seu senhor e, muitas vezes, juntavam dinheiro para comprar a liberdade.

Surgiram novos ofícios, como afiador, carpinteiro, engomador, lustrador e empalhador. Trabalhando na rua, o barbeiro, além de aparar cabelo e barba, também arrancava dentes e aplicava sangrias.

Nas primeiras manufaturas, os escravos urbanos trabalhavam ao lado de negros libertos e de imigrantes europeus.

Pintura ilustrando a sociedade no Brasil império.
Loja de barbeiro, tela de Jean-Baptiste Debret (1821).

Condições de vida desiguais: capitais e interior

O desenvolvimento das cidades brasileiras ao longo do século XIX não se deu por igual. Localizadas principalmente próximo ao litoral, as capitais das províncias passaram por uma modernização mais intensa, impulsionada pelo crescimento industrial e pelas inovações tecnológicas. O transporte se agilizou, com a introdução do bonde; o telégrafo elétrico e o telefone ampliaram as comunicações; a iluminação pública se tornou mais eficiente, com uso do gás em vez do azeite e, já no fim do século XIX, com a eletricidade.

O fornecimento de água potável se ampliou, com a construção de novas bicas. Em meados do século XIX, a água ainda não era levada até as casas. As cidades maiores tinham bicas públicas e chafarizes, onde a população ia buscar água – o que deu origem a um novo ofício: o de “aguadeiro”, pessoa que recolhia água para vender. No Rio de Janeiro, teve início um sistema de distribuição urbana com carros-pipa.

Já nas cidades do interior as melhorias custavam a chegar, e as condições de vida eram bastante difíceis. Se até os centros urbanos mais desenvolvidos, a exemplo de São Paulo e do Rio de Janeiro, enfrentavam problemas como falta de saneamento e enchentes, a situação nas cidades do interior, Brasil afora, era ainda mais precária. A água para consumo na maioria dos casos era retirada de poços, cisternas, rios e riachos.

O Rio de Janeiro das elites

Desde a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, as elites da cidade passaram a incorporar padrões europeus na cultura e no consumo cotidiano.

Os teatros atraíam numeroso público. Em 1813 foi criado o Real Teatro São João; em 1871, o Teatro Imperial D. Pedro II, que se tomou conhecido como Teatro Lírico, por apresentar muitas óperas.

As pessoas da elite (banqueiros, cortesãos, grandes comerciantes, funcionários do governo e gente da família dos cafeicultores) se reuniam nas confeitarias e nos elegantes cafés, como o Café-Concerto Alcazar, espaço de convívio e de apresentações de espetáculos variados. Também as casas de jogo se popularizaram, bem como os salões de baile, as sociedades recreativas e os restaurantes sofisticados, que ofereciam uma requintada cozinha europeia, especialmente a da França.

O esporte era mais uma oportunidade de distinção social. O hipismo, por exemplo, ganhou muitos adeptos. Mas o esporte que mais se difundiu nesse período foi o remo, praticado na cidade desde o início do século XIX. Nos clubes surgidos para organizar as regatas também se praticavam outros esportes, como a natação, o basquete e o futebol – que acabou por se tomar a principal atividade em alguns deles.

A moda imperial

No século XIX, as mulheres da elite carioca costumavam usar vestidos de cambraia de algodão bordados em fios de ouro e prata. Sua aparência simbolizava a posição social e a tradição. Para não destoar dos senhores e das senhoras, até mesmo os serviçais da casa usavam roupas de tecidos finos.

Em São Paulo não era diferente. As mulheres paulistas, tidas como elegantes e sóbrias, usavam finos vestidos de seda. Na missa, o vestido preto era obrigatório. Chapéus, véus de seda e rendas complementavam os trajes. Nos bailes, as jovens paulistas exibiam seus vestidos desenhados em Paris.

Os homens da elite utilizavam grande quantidade de roupas de lã, vestidas por cima de peças de algodão ou linho, adotando a moda europeia apesar das elevadas temperaturas do Rio de Janeiro. Eram obrigatórios os coletes, as casacas à altura da cintura e as cartolas. A vestimenta refletia o contraste social entre os membros da elite e as pessoas pobres do povo, livres ou escravas.

Retrato da sociedade imperial brasileira.
Senhora na liteira com dois escravos, foto anônima, 1860.

Os habitantes das cidades e os moradores das fazendas – homens e mulheres de condição social mais simples – vestiam-se com roupas de algodão. Os homens tinham por hábito usar camisa, calças e coletes; vez por outra, também vestiam paletó. Os sapatos eram utilizados apenas na vila; no campo, era comum o uso de tamancos de madeira. As senhoras usavam camisas enfeitadas com crochê, além de anáguas – que vinham por baixo das saias ou vestidos.

O algodão era tingido com corantes naturais como o anil, o urucum e o campeche. Saias e paletós feitos com chita cabocla ou baeta (tecido grosso e felpudo de algodão) eram estampados em roxo para as senhoras idosas, e em rosa e vermelho para as mais moças. Aos domingos, homens e mulheres usavam a roupa chamada “de ver Deus”, por ser mais bem confeccionada e somente usada para assistir às missas.

Os escravos, quando trabalhavam ao relento, cobriam-se com um timão, espécie de camisola comprida confeccionada com um pano grosseiro de lã denominado burel – também usado para fazer mantas e cobertores.

Os teares eram manuais, e os fios de algodão e lã provinham das próprias plantações e da criação de ovelhas das fazendas.

Foto de uma senhora negra vendendo frutas.
Vendedora de frutas na cidade do Rio de Janeiro, foto de Alberto Henschel, 1869.

O que os retratos podem revelar

No século XIX, a fotografia foi um importante instrumento na documentação da época. Porém ela seguia os mesmos padrões da pintura. Diferentemente das fotografias atuais, que são tiradas “instantaneamente”, as antigas dependiam de um processo de elaboração lento e eram em geral posadas.

Por isso, ao observar as imagens fotografadas no século XIX, é preciso pensar no tipo de imagem que a sociedade imperial pretendia transmitir (assim como no caso das pinturas encomendadas pelos nobres burgueses).

A vida do negro após a abolição da escravatura

Quase 800 mil escravos foram libertados pela Lei Áurea. Muitos deles ficaram abandonados à própria sorte depois de deixarem a propriedade de seus senhores, pois não foram criados mecanismos que lhes permitissem conseguir trabalho, estudar ou adquirir um lote de terra, nem mesmo após a proclamação da República em 1889. Muitos preferiram continuar nas fazendas, onde ao menos não lhes faltavam alimento e abrigo.

Embora o destino dos ex-escravos tenha sido diferente nas várias regiões do Brasil, prevaleceu a situação de desvantagem em relação aos demais trabalhadores. Nas grandes cidades, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, os negros libertos passaram a viver à margem da sociedade, sofrendo o preconceito e a discriminação.

Por: Paulo Magno da Costa Torres

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