História

Coexistência Pacífica

No início de 1957, o presidente soviético Nikita Kruchev fez um esforço para diminuir a tensão entre a URSS e os Estados Unidos. A tensão deu lugar à coexistência pacífica, que se manteve até o final dos anos 1970, apesar de alguns conflitos.

Causas da coexistência pacífica

Várias são as razões que explicam o apaziguamento entre as duas superpotências:

O fim do monopólio nuclear dos Estados Unidos

A Guerra da Coreia deixara clara a inviabilidade da adoção de políticas arriscadas. Em 1949, a União Soviética alcançou o status de potência nuclear, enquanto os Estados Unidos perderam o monopólio nesse campo. O medo da guerra atômica era real, e a quantidade de armamentos aumentou rapidamente.

Em meados dos anos 1950, URSS e EUA possuíam capacidade nuclear suficiente para destruir a Terra, caso decidissem iniciar um confronto.

A contestação nos países socialistas

Em alguns países do bloco oriental, houve manifestações populares a favor da democracia e contra o domínio soviético. Essas dissidências refletiram nas revoltas de 1956 na Polônia e na Hungria e, sobretudo, na Primavera de Praga, em 1968.

O crescente questionamento da bipolaridade do mundo

Embora a República Popular da China não fizesse parte do Pacto de Varsóvia, as relações econômicas, políticas e militares entre a China e a URSS foram muito próximas até a morte de Stálin, em 1953.

A partir desse momento, deu-se o distanciamento entre os dois países, até culminar no rompimento definitivo em 1965. De outro lado, o surgimento de novos Estados como consequência da descolonização pôs em xeque a estrutura bipolar do mundo.

A mudança de liderança política nas duas superpotências

Essa mudança originou a evolução das políticas internas soviética e norte-americana. Na URSS, após a morte de Stálin, diversos setores do Partido Comunista começaram a lutar pelo poder. Com esses confrontos internos, foi se impondo uma nova política partidária para melhorar as relações com o bloco ocidental e dar maior liberdade à população.

Foto dos líderes das duas superpotências é um símbolo da coexistência pacífica.
Kruchev e Kennedy dialogam em Viena.

Em 1956, no XX Congresso do Partido Comunista soviético, Kruchev fez graves denúncias sobre os crimes e os abusos cometidos pelo stalinismo. Isso significou sua ascensão ao poder, assim como a de um grupo de políticos mais diplomáticos e menos prophnensos ao enfrentamento com os EUA. Denominou-se essa nova linha política desestalinização.

Nos Estados Unidos, os políticos anticomunistas mais radicais perdiam força eleitoral. Harry Truman foi substituído por Dwight Eisenhower, político mais pragmático e realista; em 1960, o democrata John F. Kennedy chegou à presidência. Seu governo acreditava em uma resposta mais flexível, menos dura e agressiva diante dos soviéticos. Aliado ao crescimento econômico, à superioridade militar e ao aumento do número de correntes pacifistas, isso possibilitou o estabelecimento de alguns compromissos com a URSS. Houve também uma contestação ideológica do domínio norte-americano no mundo.

Características da coexistência pacífica

A coexistência pacífica foi um compromisso diplomático firmado entre soviéticos e norte-americanos para não alterar o equilíbrio estratégico estabelecido durante a Segunda Guerra Mundial.

A ideia dessa, coexistência pacífica – baseada no respeito mútuo entre as duas superpotências, que almejavam não modificar a situação alcançada no pós-guerra – foi ratificada na Conferência de Genebra (1955), onde se reuniram os governantes dos Estados Unidos, da URSS, do Reino Unido e da França.

Tudo isso confluiu em um período de distensão, caracterizado por menor agressividade na propaganda ideológica e nos ataques e, por fim, pela abertura de formas de negociação direta, principalmente no setor de armamentos.

Esse apaziguamento se manteve durante aproximadamente duas décadas, até o final dos anos 1970, embora entremeada por crises de intensidade variada.

As ameaças para a coexistência pacífica

A coexistência pacífica foi ameaçada por duas crises importantes, uma em Berlim e outra em Cuba.

O Muro de Berlim

Com os distúrbios causados pela divisão ideológica da Alemanha, que jogou alemães contra alemães, o êxodo da população de Berlim Oriental para o lado ocidental aumentou de intensidade: entre 1952 e 1961,2 milhões e meio de pessoas haviam cruzado a fronteira, e essa emigração ameaçava colocar em colapso a economia oriental.

Foto de um guindaste ajudando na construção do muro.
Construção do Muro de Berlim.

Em agosto de 1961, para “frear” as fugas, o governo da Alemanha Oriental, com o apoio dos soviéticos, mandou levantar um muro que separava as duas partes da cidade,

A construção do muro, criticada mas consentida pelos ocidentais, significou o reconhecimento da divisão alemã pelos dois lados. Mesmo tendo redes eletrificadas e alarmes, o muro não impediu que os alemães-orientais tentassem chegar à Berlim Ocidental. Na tentativa de fuga, centenas de pessoas foram fuziladas ou eletrocutadas.

A crise dos mísseis de Cuba

Após o triunfo da guerrilha liderada por Fidel Castro contra o ditador Fulgêncio Batista, em janeiro de 1959, instaurou-se em Cuba um regime político que foi derivando para o comunismo. A ilha localizava-se na zona de influência dos Estados Unidos, mas recebia ajuda da URSS.

Em 1961, fracassou uma tentativa de invasão da ilha por exilados cubanos procedentes dos Estados Unidos que desembarcaram na baía dos Porcos.

Em 1962, os soviéticos instalaram na ilha bases de lançamento de mísseis nucleares que podiam alcançar o território norte-americano. O episódio foi um dos momentos de maior tensão durante a Guerra Fria, pois o mundo todo temia um confronto direto de proporções atômicas. Contudo, o ultimato de retirada dos mísseis, dado pelos Estados Unidos, foi aceito pela URSS em troca da promessa de não-invasão da ilha.

Os conflitos dentro dos blocos

Além da construção do Muro de Berlim e da crise dos mísseis, vários conflitos marcaram a distensão entre 1962 e 1969. Entre eles, os mais graves foram a Guerra do Vietnã e a Primavera de Praga. Embora as duas superpotências tenham tido diferentes graus de envolvimento nesses e em outros conflitos, jamais se enfrentaram de maneira direta.

Os Estados Unidos e a Guerra do Vietnã

A Guerra do Vietnã foi um dos conflitos mais marcantes da Guerra Fria.

Desde 1954, o território vietnamita estava dividido em duas partes: Vietnã do Norte (comunista) e Vietnã do Sul (pró-ocidental). O governo sul-vietnamita enfrentava a guerrilha dos comunistas, chamados de vietcongues, e o exército do Vietnã do Norte.

Famosa fotografia da Guerra do Vietnã
Crianças em fuga após os bombardeios de napalm em Tay Ninh.

Em 1962, o presidente norte-americano John Kenned/ decidiu intervir, enviando conselheiros militares a Saigon (atual Ho-Chi-Minh) e, desde então, as tropas norte-americanas aumentaram até chegar a 500 mil soldados.

Após uma guerra cruel, na qual o exército norte-americano desfechou bombardeios em série, e diante da impossibilidade de vencer os vietcongues, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, decretou a retirada das tropas em 1973, finalizada em 1975.

Apesar de terem usado a mais avançada tecnologia de guerra, os norte-americanos não conseguiram anular a resistência dos norte-vietnamitas e de seus aliados vietcongues.

O bloco soviético e a Primavera de Praga

Em janeiro de 1968, o comunista Alexander Dubcek, que comandava o governo da Tchecoslováquia, implementou algumas medidas para a democratização do país, como a liberdade de imprensa e a autorização de organizações políticas não-comunistas. Com isso, Dubcek não pretendia acabar com o regime comunista, apenas abrandá-lo.

Temerosos de que o exemplo se multiplicasse dentro do bloco, os países do Pacto de Varsóvia, sob a liderança de Moscou, organizaram um exército de meio milhão de soldados para invadir a Tchecoslováquia. Essa invasão levou a uma ampla mobilização popular pacífica de oposição, que se prolongou durante meses, mas os manifestantes não conseguiram deter os invasores. Em abril de 1969, Dubcek foi deposto e o regime de opressão comunista voltou a vigorar.

As negociações entre as superpotências

A partir de 1963, houve uma segunda etapa de apaziguamento e uma retomada dos contatos diplomáticos. Dirigentes soviéticos e norte-americanos realizaram sucessivas reuniões de cúpula, cujo resultado foi, entre outros, a assinatura, em 1968, dos primeiros acordos contrários à proliferação de armamentos nucleares.

No final da década de 1970, a exclusividade dos Estados Unidos e da URSS no comando do mundo começou a desmoronar. Mesmo sendo inimigas, as duas superpotências, particularmente beneficiadas pela manutenção da Guerra Fria, se esforçaram para deter a expansão dos eventos contrários à sua hegemonia. Embora tenham conseguido seu intento, nem os Estados Unidos, depois da Guerra do Vietnã, nem a URSS, após a Primavera de Praga, voltaram a ser os mesmos.

Por: Paulo Magno Torres

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