História

Questão das Investiduras

Em fins do século Xl, o Papado procurou eliminar a interferência do poder temporal sobre a Igreja e, ao mesmo tempo, firmar sua própria supremacia sobre os governantes cristãos. O ponto culminante desse choque entre Estado e Igreja teve como protagonistas iniciais o papa Gregório VII e o imperador Henrique IV do Sacro Império Romano Germânico.

Tal confronto, de enorme importância no contexto da Idade Média, ficou conhecido como Questão das Investiduras ou Querela das Investiduras. Esta última, porém, é uma expressão inadequada, uma vez que a palavra querela — discussão ou briga de pouca importância — não reflete a gravidade do choque entre dois poderes que e pretendiam universais.

Na Alemanha, a autoridade imperial apoiava-se principalmente nos senhores eclesiásticos — arcebispos, bispos e abades — já que os senhores leigos demonstravam uma forte tendência localista. Valendo-se de sua até então inegável supremacia, os imperadores vinham investindo os bispos alemães nas suas funções (investidura leiga), o que enfraquecia a subordinação do alto clero ao papa e favorecia a prática da simonia e do nicolaísmo.

Querela das Investiduras

Influenciado pelas ideias reformistas e moralizadoras La Ordem de Cluny, o Papado procurou libertar-se de sua submissão ao Império, retirando dos imperadores a prerrogativa de indicar o papa e de investir os bispos alemães. Sua primeira providência bem-sucedida foi a criação do Colégio dos Cardeais (ou Sacro Colégio), cuja função principal seria eleger o pontífice.

Gregório VII, eleito em 1073, iniciou a luta contra o imperador, proibindo-o de conceder a investidura leiga. Henrique IV persistiu naquela prática e foi excomungado — o que implicava a ruptura automática dos laços de vassalagem que ligavam os senhores alemãos ao imperador.

O monarca implorou perdão ao papa, humilhando-se perante o pontífice em Canossa, um castelo situado no Norte da Itália. O papa perdoou-o e Henrique regressou à Alemanha com sua autoridade restaurada. Em seguida, o soberano germânico atacou Roma à frente de um exército, obrigando Gregório VII a fugir, acompanhado pelos prelados (bispos) reformistas. Aproveitando o exílio do pontífice, Henrique entronizou em Roma um bispo alemão, o qual assumiu o trono papal com o nome de Clemente III. Mas os demais soberanos cristãos recusaram-se a reconhecê-lo, permanecendo fiéis a Gregório VII e a seus sucessores legítimos.

No decorrer da Questão das Investiduras, tanto Henrique IV como seu filho e sucessor, Henrique V, tentaram mais de uma vez impor em Roma papas de sua escolha. Essa situação só teve fim com a Concordata de Worms (1122), na qual Henrique V renunciou à pretensão de realizar a investidura leiga na Alemanha.

O recuo do imperador marcou o início da supremacia papal sobre o poder temporal — supremacia que se manteria por quase dois séculos. As Cruzadas, que começaram a ser organizadas por essa época, dariam à autoridade do papa projeção ainda maior.

O poder da Igreja sobre os fiéis era incontestável. Os pecadores deviam cumprir penitências, as quais variavam de orações e jejuns até peregrinações e participação nas Cruzadas. A excomunhão (expulsão da comunidade cristã) era a pena mais temida. Aplicava-se o interdito (proibição de se realizarem serviços religiosos) aos domínios dos governantes que estivessem em litígio com a Igreja.

As heresias foram reprimidas com violência, como ocorreu com os valdenses e os albigenses no século XIII. Os albigenses, localizados no Sul da França, foram exterminados por uma “cruzada” de senhores franceses do Norte, chefiados pelo conde Simon de Montfort, a pedido do papa Inocêncio III.

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