Literatura

Preconceito Linguístico

A língua está sempre em movimento, mudando, adaptando-se. Na escola, estudamos português por meio da gramática normativa, que delimita os usos que devemos fazer da língua. No entanto, as possibilidades são muito mais amplas do que aquilo que os livros prescrevem, especialmente quando se trata de língua falada.

Ainda assim, há quem prefira a delimitação e despreze os usos não convencionais. Por isso, ocorrem situações de preconceito linguístico, definido pelo desrespeito às variantes da língua. Comentários ou atitudes de menosprezo ao modo como determinada pessoa se comunica são comportamentos rudes, capazes de silenciar essas pessoas na sociedade.

Evidentemente, a língua escrita e a língua falada têm diferenças. No registro escrito, é possível construir os enunciados com bastante cautela, encadeando as ideias de maneira lógica, suprimindo as repetições e aplicando as regras prescritas pela gramática normativa. Contudo, a linguagem falada é construída com mais liberdade e, consequentemente, apresenta mais ruídos e desvios.

Essas diferenças não indicam a superioridade ou a inferioridade de uma linguagem ou de outra; denotam, simplesmente, a diversidade.

Exemplos de preconceito linguístico

Costuma-se acreditar que a língua falada antigamente seja sempre superior à língua utilizada no presente. Isso é um equívoco e configura o que chamamos de preconceito linguístico, uma vez que desconsidera as variações linguísticas – históricas ou geográficas – como um fenômeno social esperado. Se as línguas antigas fossem superiores e intocáveis, ainda estaríamos falando latim.

Você já reparou que alguns objetos recebem nomes diferentes, dependendo de quem os menciona? É o caso de algumas frutas, como a tangerina (ou seria mexerica?), que têm o nome alterado dependendo da região em que se está.

A variação na língua nem sempre ocorre apenas pela região. Outro importante fator que gera distintos modos de se comunicar é o tempo. Um exemplo disso são as gírias.

Certamente, as gírias que você utiliza no dia a dia não são as mesmas que seus avós usavam anos atrás. É importante pensar, então, que os modos de falar podem revelar grandes informações sobre a época do falante. Alguém que, ao referir-se a algo muito interessante, emprega a palavra “supimpa” muito provavelmente é uma pessoa com mais idade. Em contrapartida, se alguém diz “da hora” ou “maneiro”, imaginamos que se trata de uma pessoa mais jovem, por exemplo.

Evidentemente, de acordo com o gênero textual, não usamos gírias. No caso de um trabalho pedido por um professor, empregaremos as regras gramaticais aprendidas na escola, tentando usar linguagem mais formal. Mesmo assim, ela ainda apresentará diferenças em relação a como nossos avós escreviam. A maneira como a linguagem formal se apresenta também muda com o tempo.

O combate ao preconceito linguístico

Uma das grandes funções do ensino escolar é formar cidadãos conscientes. Assim, é de extrema importância que se desconstruam preconceitos, os quais os alunos podem herdar de uma sociedade que ainda não alcançou efetivamente o respeito às diferenças. Nisso inclui-se o preconceito linguístico, talvez um dos tipos de preconceito ao qual menos se dá atenção.

Há quem confunda o combate ao preconceito linguístico com uma permissividade desmedida em relação ao processo comunicativo. Mas não se trata disso. Considera-se, sim, que diferentes situações demandam usos linguísticos diversos e que o domínio das prescrições da tradicional gramática normativa é uma das competências fundamentais (não a única, portanto). Aquele que, de fato, domina o uso da língua sabe das muitas variantes que podem existir e compreende a validade delas.

O objetivo deste artigo foi explorar essa noção de diversidade linguística. Especificamente, foi abordada a variação histórica, já que ainda existem discursos nos quais se desmerece o uso linguístico atual em favor de formas mais antigas. O intuito foi apontar a impossibilidade de se criar esse tipo de juízo de valor. Trata-se apenas de formas diferentes, frutos de seu tempo, entre as quais não cabe hierarquia de valores.

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