Estados brasileiros

Rio Grande do Norte

Graças a sua privilegiada situação geográfica — localiza-se na costa sul-americana mais próxima da Europa –, o Rio Grande do Norte sempre teve singular importância estratégica. Como diziam os portugueses quinhentistas, “é a mais perto terra que há no Brasil”.

O estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste, ocupa uma área de 53.307km2, na maior parte incluída no chamado Polígono das Secas. Limita-se ao norte e a leste com o oceano Atlântico, ao sul com a Paraíba a oeste com o Ceará. A capital é Natal.

Geografia física

Geologia e relevo

Cerca de 83% do território estadual encontram-se abaixo de 300m e 60% abaixo de 200m. Duas unidades de relevo compõem o quadro morfológico: terras baixas e planalto. O planalto, extremidade setentrional da Borborema, penetra o estado pelo sul, afastando-se bastante do litoral oriental, ao contrário do que ocorre nos estados da Paraíba e de Pernambuco. Apresenta dorso acinzentado e mais baixo que no estado da Paraíba (somente ao norte de Currais Novos alcança o planalto a cota de 800m de altitude), rebordo tortuoso e pouco escarpado.

Rio Grande do Norte

As terras baixas cercam o planalto pelos lados de leste, norte e oeste. Compreendem os tabuleiros areníticos, dispostos ao longo dos litorais oriental e setentrional; a faixa de baixos terrenos cristalinos situados a leste da Borborema; a grande superfície tabular na chapada do Apodi (200m de altitude), situada a nordeste do estado e cortada pelos vales dos rios Apodi e Piranhas; e finalmente o peneplano cristalino, com suas grandes extensões de relevo ondulado e do qual despontam esparsamente cristais e picos isolados. Outra forma de relevo característica das terras baixas é a planície aluvial que se desenvolve ao longo dos principais rios, especialmente do Piranhas e do Apodi.

Na porção sudoeste do estado ocorrem alguns maciços isolados com cerca de 600m de altitude, entre os quais se destacam as serras de São Miguel, do Martins e Luís Gomes. É a chamada região serrana do Rio Grande do Norte.

Clima

Três tipos de clima ocorrem no estado: o tropical úmido, com chuvas de outono-inverno (As’ do sistema de Köppen), o semi-árido quente (BSh) e o tropical semi-úmido (Aw’), com chuvas de outono. O clima tropical úmido ocorre na baixada litorânea oriental. Registra uma temperatura média de 24° C e uma pluviosidade de 1.000mm, que diminui rapidamente da costa para o interior, passando a 600mm a apenas cinquenta quilômetros do litoral.

O clima semi-árido quente domina praticamente todo o resto do estado, inclusive o litoral setentrional, dando lugar a uma costa bastante seca. As temperaturas médias alcançam 26o C no interior e a pluviosidade, inferior a 600mm, é sujeita a grande irregularidade, deixando de ocorrer, em alguns anos, a estação chuvosa de outono. O tropical semi-úmido ocorre apenas no extremo oeste. Registra temperaturas médias também elevadas e chuvas outonais mais abundantes que na área semi-árida (mais de 600mm anuais), sobretudo na região serrana, a sudoeste.

A larga planície costeira do Rio Grande do Norte é a única região litorânea do Brasil com clima semi-árido. Ali, a pluviosidade reduzida, os ventos secos e constantes e as temperaturas elevadas fazem do estado o maior produtor brasileiro de sal, com 77 a 85% da produção nacional, conforme o ano.

Hidrografia

A rede hidrográfica compreende rios que correm para o litoral oriental e rios que correm para o litoral setentrional. Os últimos são os mais extensos do estado, como o Apodi e o Piranhas ou Açu. A grande bacia deste abarca inclusive a porção ocidental da Paraíba.

Todos os rios do Rio Grande do Norte apresentam regime intermitente: registram grandes cheias na estação chuvosa e desaparecem na época da estiagem. No interior, numerosas barragens foram construídas, dando origem a açudes como os de Cruzeta, Gargalheiras e Itãs. Na embocadura dos rios do litoral oriental observam-se numerosas lagoas, que ocorrem também nas várzeas dos rios Piranhas e Apodi.

Vegetação

Três formações vegetais revestem o território rio-grandense: a floresta tropical, o agreste e a caatinga. A floresta tropical só é encontrada numa pequena área situada a sudeste, onde forma a extremidade setentrional da floresta litorânea que dá nome à zona da mata nordestina.

O agreste, com uma floresta menos exuberante que a anterior, apresenta um tipo de vegetação de transição para o clima semi-árido do sertão, com composição mista, com espécies da floresta tropical e da caatinga. Domina toda a porção oriental do Rio Grande do Norte, único estado em que essa vegetação chega até o litoral.

A caatinga recobre as porções central e ocidental do estado. É o tipo de vegetação que ocupa maior área, cabendo-lhe aproximadamente noventa por cento da superfície estadual. Na fímbria litorânea observa-se a característica vegetação de mangue.

População

A faixa mais povoada é a da baixada litorânea oriental, sobretudo na microrregião de Natal, a região mais úmida do estado. Nas demais regiões, as densidades se reduzem bastante, na seguinte ordem decrescente, por região: agreste, microrregião serrana do sudoeste, salineira, Borborema, Seridó, Serra Verde, Açu e Apodi, litoral de São Bento do Norte e sertão de Angicos.

Todo o território estadual se integra na área de influência da cidade de Recife PE. A ação econômica da metrópole pernambucana se produz no estado por intermédio de duas capitais regionais, Natal e Campina Grande PB. A primeira serve toda a porção oriental e setentrional do estado, enquanto à segunda cabe apenas a porção sudoeste. Entre as cidades mais importantes do Rio Grande do Norte, destacam-se, além da capital, Mossoró, Parnamirim, Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante, Caicó, Açu e Currais Novos.

Economia

Agricultura e pecuária

O mais importante produto agrícola do Rio Grande do Norte é o algodão. Cultiva-se a variedade arbórea nas áreas de menor pluviosidade, em terras do agreste e da caatinga. A principal área produtora, situada no sul do estado, compreende o agreste da Borborema e a área semi-árida situada a oeste do planalto, a região do Seridó. Em segundo lugar como cultura de larga distribuição geográfica, aparece o feijão, cultivado quer nos solos mais úmidos das planícies aluviais e pés-de-serra do sertão, quer em terras de caatinga, como cultura consorciada, ligada ao milho e ao algodão.

Seguem-se, em ordem decrescente de importância, o milho, a mandioca e o agave. Este último, introduzido na segunda metade do século XX, expandiu-se na região do agreste. Ao contrário do que ocorre nos demais estados do Nordeste, o cultivo da cana-de-açúcar ocupa posição modesta no Rio Grande do Norte.

Embora recente e sem tradição no estado, a cultura do caju é a segunda do país, somente inferior à do Ceará. O Rio Grande do Norte produz ainda melão, coco-da-baía, batata-doce e mangas. Entre os produtos extrativos vegetais destacam-se a carnaúba, abundante nas várzeas dos rios Apodi e Piranhas (o estado exporta cera) e a oiticica (a extração e beneficiamento do óleo constituem uma indústria florescente). Exploram-se ainda gomas elásticas, cascas de angico e painas.

O rebanho estadual tem distribuição geográfica generalizada, com um certo adensamento no agreste. Entretanto, a maior parte dos animais se encontra no sertão, em pastos formados de antigas terras de caatinga. Nas fazendas de criação do sertão é comum a construção de pequenos açudes, e em algumas áreas são plantadas forrageiras, sobretudo a palma (cactácea). A alimentação dos animais é em geral complementada com a torta de caroço de algodão, subproduto da extração do óleo de caroço de algodão.

Indústria

A principal indústria de transformação no estado é a têxtil, tanto pelo número de estabelecimentos quanto pelo de pessoal ocupado e volume de produção. Destacam-se ainda a de produtos alimentícios, a indústria de vestuário e artefatos de tecido e a indústria química. O grau de concentração geográfica dessa indústria é reduzido, devido ao grande número de unidades de beneficiamento de algodão dispersas pelo interior do estado.

Em segundo lugar vem a indústria de produtos alimentícios, em que se destacam as usinas de açúcar da região litorânea. Seguem-se os setores de vestuário e artefatos de tecidos e a indústria química.

A extração de produtos minerais alcança grande importância na economia do estado, que é o maior produtor de sal marinho do país. A produção, hoje com elevado índice de mecanização, se concentra no litoral norte, sobretudo nos municípios de Macau, Mossoró e Areia Branca. Muito rico em minerais, o Rio Grande do Norte é também o maior produtor nacional de tungstênio (xelita), explorado na região de Currais Novos e destinado ao mercado externo em sua quase totalidade. O estado é também produtor de petróleo (o principal campo é o de Uburana, na plataforma continental) e novas jazidas foram descobertas no início da década de 1990. O estado dispõe ainda de importantes ocorrências de mármore, gipsita, tantalita, calcário, berilo e águas minerais.

Energia e transportes

A produção de energia elétrica é bastante reduzida e, em geral, proveniente de usinas térmicas, pois a natureza dos rios não permite seu aproveitamento. O estado é abastecido pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco.

As principais rodovias são a BR-101, que liga Natal a Recife, Salvador e ao sul do país, e a BR-304, que parte da capital e corta o estado em direção a Fortaleza CE. Para solucionar o problema de escoamento da produção de sal, o governo federal construiu nos portos de Macau e Areia Branca ilhas artificiais dotadas de cais de acostamento aos cargueiros. Estes são carregados automaticamente por um sistema de cabos aéreos providos de caçambas. O porto de Natal, de grande movimento, conta com um canal de acesso com cem metros de largura e 5,9m de profundidade.

Cultura

Entidades culturais

O Rio Grande do Norte dispõe de importantes entidades culturais, entre as quais se destacam o Instituto Histórico e Geográfico que publica uma Revista desde 1903, a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e a Associação Norte-Rio-Grandense de Astronomia, todas com sede na capital. Entre as bibliotecas, devem ser citadas as da Fundação José Augusto, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Central, a do Museu Histórico e Geográfico e a Biblioteca Câmara Cascudo. A maior biblioteca pública do interior é a da Prefeitura Municipal de Mossoró.

Museus

Os mais importantes museus do estado são o Museu de Arte e História, do Instituto Histórico e Geográfico, conhecido como Museu do Sobradinho, o mais antigo e que possui preciosas coleções de arte sacra, popular e indígena, e de documentos históricos, e o Museu Câmara Cascudo, de antropologia. Destacam-se ainda o Museu de Arte Popular — localizado no Forte dos Reis Magos –, o Museu Aristófanes Fernandes, de taxidermia, e o do Instituto de Biologia Marinha, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, todos na capital.

Acervo arquitetônico

O estado possui diversos monumentos tombados, entre os quais o mais importante é o Forte dos Reis Magos, marco inicial da ocupação do território e cujo bastião teve a construção iniciada em 6 de janeiro de 1598. Ainda na capital destacam-se a estátua de Augusto Severo, o busto de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, o monumento à Independência, o obelisco em homenagem ao padre Miguelinho e a André de Albuquerque.

Turismo

Os principais pontos de atração turística do estado são, além do Forte dos Reis Magos, as praias de Pirangi, Ponta Negra, Areia Preta, do Meio, do Forte e Redinha. Nesta última existe um curioso sistema de dunas que corre paralelamente ao longo da costa, caracterizando-se por numerosa sucessão de capontas, isto é, verdadeiros lagos de água doce, cuja extensão chega até dez mil metros quadrados. Outras atrações turísticas são a lagoa Manuel Filipe, o farol de Mãe Luísa, a igreja de Santo Antônio, a capelinha dos Reis Magos, a feira livre de Alecrim, o cajueiro de Piranji, com copa de sete mil metros quadrados, em Piranji do Norte, a 26km da capital; e a rampa de lançamento da Barreira do Inferno, no município de Parnamirim, a vinte quilômetros da capital.

Folclore

Os principais eventos populares do estado são as exibições folclóricas: fandango, pastoris, lapinha, chegança (do ciclo do Natal), boi-calemba, bambelô, congo. Danças típicas são o serrote, um xote dançado por dois ou três pares apenas, e o baiano, uma dança viva com coreografia individual.

Na culinária destacam-se o acaçá, um bolo de fubá de milho ou arroz que é cozido com água e sal até ficar gelatinoso; a alambica, jerimum cozido com toucinho; a aritica, feijão com rapadura, e o aluá, uma bebida de origem indígena fermentada de abacaxi ou milho e açúcar.

Autoria: Adelquis Souza

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