História

Fim da União Soviética

Compreender o fim da União Soviética e, por decorrência, do bloco socialista é considerar as dificuldades de um sistema centralizado e burocratizado em inovar em áreas que não fossem estratégicas para manutenção da lógica da Guerra Fria.

As inovações na URSS existiam no plano militar e espacial, mas os avanços tecnológicos nessas áreas não se transformavam em avanço no atendimento das necessidades de consumo da população.

O distanciamento entre estrutura partidária e interesses populares desprovia o regime da legitimidade alcançada no passado com a ideia de revolução e de abertura para um caminho de prosperidade geral alentada no movimento revolucionário.

Assim, o regime padecia de apoio popular e, com o tempo, não encontrava meios nem para sustentação das conquistas nas áreas espacial e militar.

Foi neste quadro de desgaste, de insatisfação popular e de desabastecimento que, em março de 1985, Mikhail Gorbatchev assumiu a dirigência da URSS. Ele apresentou para a União Soviética dois programas básicos para enfrentar a difícil situação, a glasnost e a perestroica.

Glasnost

Glasnost, transparência, significou o estabelecimento de medidas liberalizantes, democráticas no regime socialista, na imprensa, na ciência, na arte e na política, como a implantação do voto secreto, além de uma nova relação com os dissidentes políticos, os quais podiam se manifestar e até mesmo deixar livremente o país. Essas medidas se traduziram em profundas mudanças nas relações com os países-satélites, concedendo-lhes autonomia e não intervindo em assuntos internos.

A ideia era conferir também mais visibilidade às ações políticas, favorecendo o envolvimento da população no debate público, além da preocupação de legitimar as ações políticas do Partido Comunista, por meio da aproximação entre a classe política e o “povo” soviético.

A charge associa a glasnost com o fim da União Soviética.

Perestroica

O outro lado do reformismo foi a perestroica, ou reestruturação, visando à modernização da economia, à incorporação de novas tecnologias, à eliminação do burocratismo e ao estímulo à produtividade do trabalhador em combate à ineficiência, capacitando-os através de treinamento e devolvendo-lhes a dignidade como indivíduos. Empresas deficitárias foram fechadas e os trabalhadores remanejados, além de parcerias com o capital estrangeiro e remessa de lucros para o exterior.

Obviamente que isso representava uma nova postura no interior do Partido Comunista da União Soviética e de sua relação com a sociedade civil, além das relações internacionais, reduzindo a produção de armamentos, notadamente nucleares.

Por essa época, Gorbatchev propôs a criação da Casa Comum Europeia, uma nova Europa, democrática, finalizando a hegemonia dos partidos comunistas nos países do Leste Europeu, e desmilitarizada, o que significava uma proposta ousada de fim da Otan e do Pacto de Varsóvia.

O desmoronamento da União Soviética

A repercussão não tardou, e, logo, movimentações no interior da União Soviética e no Leste Europeu fizeram-se sentir. Eram movimentos contra o monopólio de poder do Partido Comunista, em defesa da liberdade nacional e de abertura para o capital estrangeiro.

Letônia, Estônia e Lituânia, que integravam a URSS por anexação, desenvolveram campanhas pela autonomia. A União Soviética começava a se desmanchar.

Charge com Gorbatchev exclamando: “Isto é terrível, os sérvios acreditam no que eu digo!”

A charge mostra que a política desenvolvida por Gorbatchev animou nacionalidades submetidas a Moscou a se manifestarem em prol das independências nacionais. Era o caminho para o fim da União Soviética.

As propostas reformistas de Gorbatchev não surtiram efeito, e a economia continuava a apresentar resultados negativos, enquanto os países socialistas do Leste Europeu rompiam as amarras que os prendiam à URSS, além do descontentamento de setores conservadores do PCUS.

Por outro lado, uma ala ultrarreformista, liderada por Boris Yeltsin, reivindicava reformas mais profundas. Em meio a esse fogo cruzado, houve uma tentativa de golpe de Estado para depor Gorbatchev, liderada pelos setores conservadores, mas que fracassou devido à reação popular, sobressaindo-se a figura política de Boris Yeltsin, que canalizou para si a vitória da resistência ao golpe.

No dia 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Rússia, da Ucrânia e de Belarus (atual Bielorrússia) formalizaram a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), a qual contou com a adesão de mais oito repúblicas, também em dezembro. No dia de Natal, Gorbatchev renunciou.

No mundo ocidental, Gorbatchev era aplaudido, pois suas reformas criavam uma situação de distensão e de interesse empresarial em investir e lucrar com a abertura dos mercados dos países socialistas. A iniciativa privada avançava e, para os mais eufóricos ocidentais, isso representava a vitória do capitalismo e o fim da história.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

Bibliografia:

BERSTEIN, Serge; MILKA, Pierre. História do século XX: de 1973 aos dias atuais. A caminho da globalização e do século XXI. São Paulo: Nacional, 2007.

Veja também: