Guerras

Primeira Guerra Mundial

Em 1914, eclodiu a Primeira Guerra Mundial, maior conflito bélico que a humanidade havia enfrentado até o momento. Suas consequências humanas e materiais foram terríveis, chegando a mais de 9 milhões de mortos.

Principais causas da guerra

O nacionalismo constituiu-se como uma espécie de ideologia aglutinadora de forças sociais no século XIX, base das unificações tardias da Itália e da Alemanha.

Ao lado do liberalismo, o discurso nacionalista fomentou políticas de desenvolvimento industrial de países europeus, sendo parte dos esforços de grupos sociais, principalmente burgueses, no sentido de ampliar os ganhos por meio de inovações tecnológicas.

O imperialismo correspondeu a políticas das potências industriais com o intuito de absorver espaços estratégicos do globo para sua expansão econômica. Ao mesmo tempo em que garantia melhores condições econômicas para grandes grupos industriais nacionais, favorecia o fortalecimento dos Estados Nacionais europeus.

Contudo, o imperialismo constituía disputas entre tais Estados, ampliando as tensões intraeuropeias por meio da conquista de espaços extraeuropeus.

Dessa forma, o nacionalismo e o imperialismo se articulavam no acirramento das tensões, promovendo uma escalada militarista no continente europeu.

Aprenda mais: Causas da Primeira Guerra Mundial.

A explosão da Primeira Guerra Mundial

Em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, realizou uma visita a Sarajevo, onde foi assassinado.

O assassino era Gavrilo Prinzip, um bósnio pró-Sérvia e membro da sociedade secreta nacionalista Mão Negra, que pretendia a formação de uma Grande Sérvia nos domínios balcânicos do Império Austro-Húngaro. O assassinato, contudo, não deflagrou a guerra.

Imediatamente houve uma movimentação diplomática entre Viena e Berlim para decidir o papel de ambos os países aliados. Além disso, tentou-se convocar uma conferência internacional para resolver o conflito de forma pacífica, o que não foi possível.

O passo definitivo para a Primeira Guerra Mundial se deu após o ultimato do governo da Áustria à Sérvia, que aceitou todas as condições, exceto uma: a de que o governo sérvio seria responsabilizado pelo atentado e os agentes austríacos fariam parte das investigações. Isso foi o suficiente para a Áustria, com apoio da Alemanha, declarar guerra à Sérvia.

O conflito se ampliou quando, em 30 de julho, a Rússia – que assumira o papel de protetora dos eslavos – decretou a mobilização geral de seus exércitos em apoio à Sérvia. Como resposta, houve, no início de agosto, uma série de declarações de guerra entre os principais países europeus.

Formaram-se dois grupos: um composto pela Alemanha e pelo Império Austro-Húngaro, ao qual logo aderiram a Bulgária e o Império Turco-Otomano (impérios centrais); e outro dos Aliados, integrado pelo Reino Unido, Rússia, França, Bélgica e Sérvia, ao qual posteriormente se incorporaram Estados Unidos, Itália, Romênia, Grécia e Portugal.

Características da Primeira Guerra Mundial

Embora os comandos militares pensassem que o conflito seria breve e pouco sangrento, a Primeira Guerra Mundial durou quatro anos e assumiu proporções mundiais, apresentando várias inovações em comparação com os conflitos tradicionais:

  • Houve completa mobilização da retaguarda de cada país para fazer frente ao esforço bélico. Os Estados conflitantes adotaram economias de guerra que envolviam todos os setores: nas fábricas fomentou-se a produção de armas, recrutou-se mão-de-obra que substituísse os jovens que estavam no front (mulheres, homens mais velhos etc.) e racionou-se o consumo de alimentos para não deixar de abastecer os exércitos.
  • Pela primeira vez foram empregadas novas tecnologias de destruição, como submarinos, aviões de combate, gases tóxicos e tanques.
Tanque da Primeira Guerra Mundial.
Os novos inventos bélicos causaram enormes perdas humanas logo nos primeiros anos da guerra. As tradicionais táticas de guerra, empregadas durante todo o século XIX, foram superadas pelo emprego de tanques, granadas, canhões e aviões.

Cenários e fases do conflito

Os principais cenários da guerra foram o noroeste da França, a frente oriental e o norte da Itália. Constituiu outra frente de batalha a luta no mar. Alemanha, por sua inferioridade diante da marinha de guerra britânica, optou pela guerra submarina.

A Primeira Guerra Mundial teve quatro fases:

  • A guerra de movimento (1914). A Alemanha optou pela guerra-relâmpago no oeste para anular a França e mais tarde concentrar-se na frente oriental, penetrando na Rússia. Essa estratégia, contudo, falhou pela rápida incorporação da Inglaterra (Reino Unido) à guerra e pela resistência francesa no Mame, muito próximo a Paris.
  • A guerra de posição. A partir de setembro de 1914, as frentes se estabilizaram e a guerra adotou uma tática defensiva com o uso de trincheiras. Houve batalhas sangrentas, como as de Verdun e Somme, em 1916, mas nenhum grupo conseguiu avançar.
  • O ano de 1917. A Revolução Russa resultou na retirada da Rússia do conflito. Apesar disso, o fator mais decisivo em 1917 foi a entrada dos Estados Unidos na guerra, a favor das potências aliadas, proporcionando importantes recursos materiais e humanos.
  • O fim da guerra. Os alemães firmaram com a Rússia o Tratado de Brest-Litovsk (1918), que lhes permitiu transferir suas tropas para o oeste. Em resposta, os aliados organizaram uma ofensiva em todas as frentes, na qual utilizaram carros de combate e aviões.
    Os impérios centrais não conseguiram resistir e se renderam: primeiro a Turquia, depois a Áustria e, finalmente, a Alemanha, após a abdicação do kaiser Guilherme II. Em 11 de novembro de 1918, os aliados assinaram o armistício em Rethondes (França). A guerra havia terminado.
Foto de uma trincheira na Primeira Guerra Mundial.
Entrincheirados, os soldados suportavam todos os rigores da guerra
e da natureza, como o frio. Doenças proliferavam nas frentes de batalha, elevando o número de mortos. Estacionados nas trincheiras, os soldados tornavam-se alvos fáceis dos bombardeios aéreos.

Tratados de paz do pós-guerra

Em janeiro de 1919 ocorreu a Conferência de Paris, da qual participaram 32 países, sem incluir os vencidos. As principais decisões foram tomadas pelos Estados Unidos, pela França, pelo Reino Unido e pela Itália, e os países derrotados foram obrigados a aceitar as condições impostas. Nessa conferência, concordou-se em criar a Liga das Nações, organização internacional cujo objetivo era salvaguardar a paz e resolver, mediante negociação, os conflitos entre os países.

Posteriormente, em julho de 1919, foi assinado o principal documento, o Tratado de Versalhes, que culpava a Alemanha pela guerra, impondo à nação duríssimas sanções: perdas territoriais, limitação de seu exército a 100 mil homens, indenização aos países vencedores, desmilitarização da margem esquerda do Reno (na fronteira franco- germânica) e ocupação da rica região mineira do Sarre pela França durante quinze anos. A Alemanha considerou o tratado injusto, o que alimentou o desejo de revanche.

Consequências da Primeira Guerra Mundial

Quando a guerra terminou, a economia teve que se adaptar à situação de paz. O desemprego e os preços aumentaram, empobrecendo os assalariados e aqueles que viviam de rendas.

Tal situação criou, em todo o continente, um clima revolucionário que originou numerosos conflitos, agitações sociais e greves operárias.

Para acabar com a agitação social, em alguns países da Europa foram eleitos governos social-democratas ou trabalhistas que tentaram realizar políticas reformistas.

Perdas humanas e materiais

As perdas humanas no conflito foram enormes: das 65 milhões de pessoas mobilizadas, cerca de 9 milhões morreram e mais de 30 milhões ficaram feridas por causa da guerra.

O país que perdeu mais gente em relação à sua população total foi a França (3,28% da população em 1913), seguida da Alemanha, da Áustria-Hungria e da Rússia.

Já as perdas materiais foram bem menos significativas, principalmente em função da grande estabilidade das frentes. Os países que mais sofreram com a destruição de campos agrícolas, minas e povoações foram a França, a Bélgica e a Itália. A economia dos países europeus ficou destroçada pelos gastos de guerra e, para saldá-los, pediram-se grandes empréstimos aos Estados Unidos, que se transformaram na primeira potência econômica do mundo.

Mudanças territoriais

Os tratados de Versalhes (1919), Saint-Germain (1919), Trianon (1920) e Sèvres (1920) desenharam um novo mapa da Europa,

Dos cinco grandes impérios europeus existentes antes do conflito, apenas o britânico sobreviveu. Os impérios alemão, austro-húngaro, russo e turco-otomano se desintegraram, e seus territórios foram divididos em novos Estados nacionais ou anexados por outros países.

  • A Alemanha teve de devolver à França a Alsácia e a Lorena, à Dinamarca o ducado de Schleswig e ao novo Estado polonês a Posnânia e o corredor de Danzig (atual Gdansk). Além das sanções do Tratado de Versalhes, a Alemanha perdeu todas as suas colônias na África, que foram repartidas entre outras potências sob a forma de mandatos supervisionados pela Liga das Nações.
  • O Império Austro-Húngaro foi fracionado em quatro países: Áustria, Hungria, Iugoslávia e Tchecoslováquia.
  • O Império Russo ficou sem a Finlândia, a Estônia, a Letônia e a Lituânia, que se tomaram independentes.
  • A Polônia ressurgiu com territórios da Rússia e Alemanha.
  • A Itália anexou os territórios de Trento e Ístria.
  • O Império Turco-Otomano perdeu parte de seu território europeu, que passou para a Grécia e a Romênia, e viu-se obrigado a ceder aos aliados suas províncias no Oriente Médio. O antigo império deixou de existir.
Mapa político europeu antes e após a Primeira Guerra.
A situação política da Europa antes (esquerda) e depois (direita) da guerra.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

Referências

  • RÉMOND, René. O século XX: de 1914 aos nossos dias. São Paulo: Cultrix, 1999.
  • HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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