Cultura

Cultura Medieval

Desde a queda do Império Romano do Ocidente, a Europa viveu uma situação de caos geral que se refletiu no dia a dia das pessoas e, logicamente, na cultura medieval. A Igreja monopolizava o saber e fazia valer sua superioridade como instituição para controlar a mentalidade social.

Setores das artes, como escultura, pintura, arquitetura e música, assim como a filosofia, também estiveram a serviço da Igreja Católica durante praticamente toda a Idade Média.

Aspectos culturais da Alta Idade Média

O temor, o pessimismo, a instabilidade generalizada e a preocupação com o extraterreno marcaram a cultura europeia durante a chamada Alta Idade Média, ou, pelo menos, parte dela. Os filósofos, teólogos, literatos e poucos cientistas centravam seus estudos naquilo que era considerado vontade de Deus. A Filosofia, as Artes e as Ciências eram pensadas com finalidade religiosa. Essa foi a chamada cultura teocêntrica que marcou o pensamento medieval.

O grande destaque dessa fase foi a Filosofia, que teve em Santo Agostinho uma síntese entre o pensamento clássico de Platão e os dogmas da Igreja. Nascido na atual Argélia, em 354, Santo Agostinho era mais teólogo que filósofo, a exemplo da maioria dos pensadores da época. Filosofia e a Teologia (o estudo de Deus) confundiam-se. Suas obras mais importantes foram: Confissões e Cidade de Deus.

Ainda sobre a cultura medieval nesta fase, não podemos nos esquecer dos esforços do imperador Carlos Magno em realizar aquilo que os historiadores chamam de Renascimento Carolíngio. Contudo, após a morte do imperador e com o fim do Império Carolíngio, esse projeto não avançou.

Aspectos culturais da Baixa Idade Média

Com as transformações ocorridas na Europa a partir do século XI, como os Renascimentos Comercial e Urbano, os europeus foram sendo tomados por um espírito mais voltado para a liberdade de ação e de criação. Assim, como foram maiores as inovações e a produção cultural na Baixa Idade Média europeia, estudaremos individualmente alguns setores de maior destaque.

Arquitetura

Na arquitetura devemos destacar que a partir do século XI a Europa Ocidental foi coberta de igrejas, que, ao lado dos mosteiros, demonstravam a força do catolicismo na sociedade da época. Essas obras foram construídas em dois estilos: o românico – predominante entre os séculos XI e XII – e o gótico – presente nas construções dos séculos XII até o XVI.

Cultura medieval.
À esquerda, Catedral de Girona, na Espanha: arquitetura românica – À direita, Catedral de Notre Dame, em Paris: de estilo arquitetônico gótico.

Literatura

A literatura, até o século XII, procurava enaltecer a figura do cavaleiro defensor dos pobres, da justiça, do amor e, evidentemente, da cristandade. Dentre as características desse personagem destaca-se a extrema lealdade dedicada ao seu senhor, à honra e à coragem. Essas manifestações literárias conhecidas como poemas épicos podem ser exemplificadas pela Canção de Rolando (França) e El Cid (Espanha).

Vale destacar que esses poemas foram escritos nas línguas nacionais, e isso é considerado revolucionário para a época, uma vez que desde o início da Idade Média a língua tida como oficial em toda a Europa Ocidental era o chamado latim culto, pois era utilizado nas celebrações religiosas, nas obras literárias e nos documentos oficiais. As línguas faladas pelos diversos povos europeus eram tidas como latim vulgar, uma mistura do latim com as línguas dos povos bárbaros.

No século XII, um novo estilo literário surgiu na Europa: o Trovadorismo, as chamadas poesias líricas, marcadas pela exaltação da figura feminina pelos cavaleiros.

Já no século XIII, alguns autores marcariam o advento de novos tempos para a cultura medieval, pois inaugurariam um movimento artístico-cultural que buscaria nas obras da Antiguidade Clássica greco-romana a inspiração para seus textos. Destaque para Dante Alighie­ri (1265-1321) com A divina comédia, Francisco Petrarca (1304-1374) com De África, e Giovani Boccaccio (1313-1375) com Decameron.

Essas obras retrataram o amor terreno e a crítica social, moral e religiosa da época, marcando, assim, o início de uma nova era no plano da cultura: o humanismo. Esses autores e suas respectivas obras são considerados precursores (iniciadores) do Renascimento.

filosofia

Na filosofia, o pensamento da Baixa Idade Média foi marcado pela Escolástica, cuja maior expressão foi São Tomás de Aquino (1225-1274). A filosofia tomista, como ficou conhecida, também se concentrou na busca de conciliar o pensamento racionalista com as propostas vinculadas à Igreja.

Inspirado na obra filosófica de Aristóteles, Tomás de Aquino, que era membro da Igreja Católica, sustentava que a razão era a chave para a busca de todo o conhecimento, inclusive para se provar a existência de Deus.

Por intermédio desse filósofo/teólogo, podemos perceber uma maior preocupação com a figura humana, ainda que a fé estivesse acima de todas as verdades. Sua obra mais importante foi a Suma Teológica, na qual tratou de diversos assuntos, como economia, política e religião.

Ciência

Quanto à ciência, que pouco se desenvolveu na Europa da Alta Idade Média em função dos impedimentos da Igreja Católica sobre as experimentações, deve-se destacar a importância de Roger Bacon (1214 a 1294), conhecido como o “Doutor Admirável”.

Bacon introduziu nos estudos científicos a observação e o experimento como forma de afirmação dos seus trabalhos, o que inspirou cientistas posteriores a ele.

Vale ressaltar que Roger Bacon também era um religioso e suas inovações estavam em concordância com as mudanças ocorridas na Baixa Idade Média, o que não o livrou das perseguições da Igreja Católica.

Da mesma forma, Guilherme de Ockham, religioso franciscano, defendeu o conhecimento racional por meio da experiência e foi perseguido pela Igreja. Ele defendia a subordinação do clero ao Estado, participando, ativamente, das discussões em torno do Cisma do Oriente.

Educação

A educação europeia durante a Idade Média esteve vinculada à vida prática dos homens. Os jovens educavam-se convivendo com os adultos nos locais de trabalho, oficinas, mosteiros etc. Os filhos de nobres, quando atingiam certa idade, participavam das caçadas nos bosques, preparando-se para as atividades belicosas. O analfabetismo era predominante em quase toda a sociedade europeia do medievo, até mesmo entre os nobres. A escrita era quase um privilégio do clero católico.

Porém, com o Renascimento Urbano e Renascimento Comercial começaram a surgir as escolas e, depois, as universidades, como as de Paris (fundada em 1215 e cuja organização serviu de modelo para outras), Palermo, Bolonha, Oxford, Montpellier e Salamanca. As universidades surgiram a partir de associações de estudantes e mestres, parecidas com as corporações profissionais, e buscavam promover estudos, independentemente daqueles realizados por religiosos, quase sempre comprometidos com os princípios da Igreja, ou com a autoridade de um monarca.

Como não poderia deixar de ser, a cultura medieval acompanhou as mudanças nos setores econômicos, sociais e políticos do período. Podemos afirmar que o Renascimento Cultural e Científico ocorrido na passagem da Idade Média para a Idade Moderna foi uma continuação dessas transformações que vinham se processando desde o século XII.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

Veja também: