História do Brasil

Governo Washington Luís

O período governamental que encerraria a “República Velha” teve início a 15 de novembro de 1926, quando tomaram posse nos cargos de Presidente e Vice-presidente Washington Luís e Fernando de Melo Viana, respectivamente.

“Governar é construir estradas”

Duas grandes preocupações destacam-se no programa administrativo do novo governo: construção de estradas e reforma financeira. Logo são iniciadas as grandes rodovias Rio – São Paulo e Rio – Petrópolis, esta última visando posteriormente a prolongar-se até Belo Horizonte. Atribuiu-se a Washington Luís o lema “governar é construir estradas”. Empenhou-se também o governo em conseguir a estabilização monetária mediante a formação de reservas em ouro, inicialmente obtido através de empréstimos.

Retrato de Washington Luís De maneira geral, entretanto, nossa situação econômica não era boa. Nosso principal produto, o café, desde 1925 ultrapassou suas possibilidades de exportação em virtude do crescimento contínuo dos cafezais; bastaria dizer que, sendo a produção anual média de 21 milhões de sacas, o consumo mundial atingia apenas 14 milhões delas. Convém lembrar que, garantindo a manutenção de preços compensadores para o café, já haviam os governos pretéritos negociado empréstimos em condições onerosas. Além disso, praticamente não mais se exportava borracha e o cacau sofria uma seriíssima crise.

O racha das oligarquias

Politicamente também não ia bem o regime. A representação popular havia sempre sido uma farsa. As fraudulentas eleições, feitas pelos chefes políticos ou “coronéis”, se por um lado mantinham no poder seus representantes, por outro provocavam um natural desejo de reformas, que encontraria eco, sobretudo, entre a oficialidade mais jovem. Gerou-se assim o “tenentismo” que admitia ser a corrupção o vício fundamental do regime, contra o qual, aliás, estruturalmente nada de especial tinha a opor. Só posteriormente é que os líderes tenentistas aderiram a propostas mais concretas, tanto comunistas como nazi-fascistas.

A escolha dos candidatos à sucessão presidencial funcionará como um estopim para a mais importante revolução da História republicana.  Apresentavam-se como prováveis candidatos Júlio Prestes, Getúlio Vargas e Antônio Carlos de Andrada.

Júlio Prestes, governador de São Paulo, havia sido líder do governo na Câmara Federal e em torno do seu nome giravam as simpatias do Catete. No entanto, de acordo com a política do café-com-leite, era a vez de o candidato ser mineiro.

Getúlio Vargas, deixando a Pasta da Fazenda, ocupou o governo do Rio Grande do Sul. O grande Estado sulino, em virtude das divisões e ressentimentos locais, jamais conseguiu coesão política suficiente para que um rio-grandense exercesse a presidência da República, não obstante ter Pinheiro Machado conseguido, consoante já analisado, uma verdadeira hegemonia entre os grandes chefes políticos do país. Mesmo no Império, jamais um gaúcho havia sido indicado para a presidência do Conselho de Ministros. Vargas compreendeu bem o problema. Sucedendo a Borges de Medeiros, tratou de apaziguar os grupos políticos antagônicos do seu Estado, formando uma “frente única”.

Antônio Carlos de Andrada, governador de Minas Gerais, aspirava também à sucessão presidencial. Suas possibilidades enquadravam-se na política tradicional de alternância no poder de paulistas e mineiros, chamada pelo povo de política café-com-leite, porquanto representava a força econômica dos grandes Estados: São Paulo (produtor de café) e Minas Gerais (produtor de lacticínios).

Em São Paulo surgiu o Partido Democrático, que reunia a oligarquia local dissidente. Os entendimentos políticos evoluíram no sentido de agruparem-se em torno de Getúlio Vargas as forças da oposição. Consequentemente, Minas Gerais e Rio Grande do Sul transformavam-se em dois grandes focos de rebeldia à política dominante. Na Paraíba contariam com o apoio de João Pessoa, candidato à vice-presidência. Formou-se assim a chamada “Aliança Liberal”. Júlio Prestes e Vidal Soares foram de fato os candidatos situacionistas (“Concentração Conservadora”).

A Crise de 1929

Ao chegarem ao Brasil os efeitos do colapso da Bolsa de Nova York (outubro de 1929), aumentaram as possibilidades de uma solução armada. A crise de 1929 alastrara-se pela Europa, atingindo também São Paulo, como tradicional fornecedor de café aos países estrangeiros conturbados financeiramente pela grande depressão. O Brasil perdeu o seu maior mercado consumidor: Os EE.UU. Enfraquecera-se, pois, o Estado no qual o governo federal depositava suas esperanças. Os créditos internacionais foram suspensos. A política de valorização do café entrou em colapso, afundando o restante da economia nacional.

Realizaram-se, contudo, as eleições para os cargos de Presidente e Vice-presidente da República no prazo previamente determinado. Pulularam as fraudes de ambos os lados. O resultado final foi favorável a Júlio Prestes e Vital Soares, que não chegariam a tomar posse, vez que, vinte e dois dias antes de terminar o mandato presidencial de Washington Luís, a Revolução havia se iniciado. Era a chamada Revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas.

A frase de Antônio Carlos “façamos a revolução, antes que o povo faça” evidencia que se admitia a existência de um clima revolucionário. A insatisfação com o regime havia atingido níveis muito altos. As classes dominantes, naturalmente, não queriam aceitar uma tomada do poder pela população. A “Revolução” foi, portanto, um meio de evitar uma revolução no sentido real da palavra, que abarca mudanças efetivas nas estruturas sócieconômicas do país.

Autoria: Leonardo Santos Collier

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