Sociologia

Divisão Social do Trabalho

Compreende-se por divisão social do trabalho a distribuição das atividades e tarefas entre sociedades distintas em escala global ou entre grupos e estamentos sociais dentro de uma mesma localidade.

Historicamente, a divisão social do trabalho advinha apenas da distinção de tarefas entre homens e mulheres. Contudo, com o avanço das civilizações e o ganho de complexidade dentro das sociedades, além da formação de castas, estamentos e posteriormente classes sociais, a divisão do trabalho tornou-se gradualmente mais complexa, até que perdesse o caráter puramente hierárquico que manteve por milênios.

No contexto das sociedades globalizadas, a divisão social do trabalho pode agir como facilitador para o desenvolvimento de atividades econômicas. Países mais desenvolvidos tendem a concentrar etapas mais complexas e tecnológicas dos processos econômicos, enquanto países em desenvolvimento são sobretudo responsáveis pela produção e pela concentração de atividades mais genéricas e de menor valor agregado.

Por razões óbvias, esse mesmo mecanismo pode ser considerado um dos principais responsáveis pela  ampliação das desigualdades econômicas ao redor do mundo e entre regiões de um mesmo país. A divisão social do trabalho no capitalismo é acentuada e complexa, o que foi por muito tempo, ao menos desde a Segunda Revolução Industrial, alvo de críticas de estudiosos como Émile Durkheim (1858-1917) e Karl Marx (1818-1883), autores inaugurais da sociologia.

Émile Durkheim e a divisão social do trabalho

Durkheim atribui à divisão social do trabalho – especialização de funções na sociedade industrial – o papel fundamental na coesão social das sociedades modernas, uma espécie de solidariedade orgânica. Durkheim vê a sociedade moderna como um organismo vivo de elevada complexidade, dentro do qual há órgãos com finalidades e responsabilidades particulares, todos essenciais para a manutenção do todo.

Se nas sociedades pré-capitalistas a coesão era promovida pela força da consciência coletiva e dos valores da moral social, na modernidade é a própria divisão social do trabalho que sustenta a estrutura base da sociedade.

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Karl Marx e a divisão social do trabalho

Em nítida oposição, Karl Marx afirma que a divisão social do trabalho, na sociedade capitalista, leva a uma total alienação. Segundo ele, no trabalho do capitalismo o trabalhador se vê numa atividade completamente estranha à sua realidade e eles não são capazes de se reconhecer na atividade que desempenham e no produto que elas geram.

Para ele, na moderna divisão do trabalho, o ritmo e a forma de sua realização não são decididos pelos trabalhadores, de acordo com suas necessidades, mas sim por administradores, engenheiros e técnicos responsáveis pela organização. A orientação de todos eles é simplesmente o lucro.

Além disso, Marx critica a especialização – cada grupo responde por parte de um processo produtivo e por uma única tarefa dentro da produção das mercadorias. Marx oferece uma crítica direta aos pais da administração, Taylor e Fayol, no sentido de considerar movimentos repetitivos “monótonos” e antiprodutivos para o próprio trabalhador. Marx, finalmente, considera que o capitalismo nesse sentido produz uma sociedade na qual as atividades não criam satisfação e prazer aos próprios trabalhadores.

Sob o ponto de vista sociológico de Marx, as indústrias mecanizadas efetivam a alienação do trabalho, convertendo-o em uma atividade estranha à humanidade do trabalhador.

O trabalho alienado exorta dos seres humanos a sua própria humanidade. Para Marx, finalmente, o trabalho é por essência a atividade que liga os seres humanos à natureza, ou a natureza à própria humanidade. No trabalho alienado e na divisão social especializada e processual, a humanidade seria incapaz de reconhecer a si mesma.

O socialismo, a despeito da visão de Marx, acabou por produzir estados nos quais a produção empregava, sob muitos aspectos, a mesma lógica de trabalho especializado e repetitivo de países capitalistas.

Max Weber e a divisão social do trabalho

Weber ainda une um outro fator à divisão social do trabalho – a fé religiosa. O autor, em seus estudos, dissocia claramente católicos e protestantes dentro da sua análise social do trabalho.

Para ele, as sociedades protestantes distinguiam-se daquelas tipicamente católicas. Dentro da lógica protestante, mais austera, o trabalho era valorizado e a aplicação dos trabalhadores, bem como sua própria ambição, criava uma tendência mais nítida ao empreendedorismo.

Em termos mais organizacionais, Weber fala da burocracia como fonte da racionalidade na organização do trabalho. Mais do que uma mera organização do trabalho, Weber enxergava a burocracia como um método científico de dominação social.

A partir da burocracia, que Weber considerava o centro do tecido social e da organização do trabalho nas sociedades modernas, surge uma nova forma de autoridade. A autoridade tradicional, advinda da tradição, da cultura e da hereditariedade, bem como a autoridade carismática, passavam a ceder lugar para a autoridade racional-legal: criada segundo regras e regulamentos aceitos pe

Referência

Por: Carlos Artur Matos

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