História

Idade Média

Considerada desde o Renascimento como período obscurantista e decadente, situado entre a antiguidade e o Renascimento, só em meados do século XIX a Idade Média passou a ser entendida como etapa necessária da história da civilização ocidental. Durante cerca de um milênio, a Europa medieval passou por lentas mudanças econômicas e políticas que, no entanto, prepararam o caminho da modernidade.

Chama-se Idade Média o período da história europeia compreendido aproximadamente entre a queda do Império Romano do Ocidente e o período histórico determinado pela afirmação do capitalismo sobre o modo de produção feudal, o florescimento da cultura renascentista e os grandes descobrimentos. A civilização medieval foi, em essência, a síntese de três elementos: o legado da antiguidade greco-latina, a contribuição dos povos germânicos e a religião cristã. O império bizantino e a civilização muçulmana na península ibérica constituem os limites geográficos e culturais mais claros entre os quais transcorreu essa longa fase histórica. Do ponto de vista cronológico, essas civilizações também tiveram sua Idade Média, durante a qual viveram processos de características próprias.

A Idade Média europeia divide-se em duas etapas bem distintas: a alta Idade Média, que vai da formação dos reinos germânicos, a partir do século V, até a consolidação do feudalismo, entre os séculos IX e XII; e a baixa Idade Média, que vai até o século XV, caracterizada pelo crescimento das cidades, a expansão territorial e o florescimento do comércio.

Alta Idade Média

Reinos germânicos

A penetração e a fixação dos povos germânicos no território do Império Romano deram lugar à formação de diversos reinos, a partir do início do século V. A autoridade imperial deixou de existir no Ocidente no ano 476, com a deposição de Rômulo Augústulo. A parte oriental do império, centrada em Constantinopla (atual Istambul), assumiu a partir daí o legado político de Roma.

Os germânicos, ditos bárbaros pelos romanos, organizaram seus reinos dentro das antigas fronteiras do império e em áreas que nunca tinham sido ocupadas pelos romanos, como a Alemanha. Cada um desses reinos evoluiu de forma diferente para dar lugar às monarquias europeias medievais. Os ostrogodos instalaram-se na Itália, conduzidos por Teodorico, e constituíram um dos reinos mais importantes dos séculos V e VI. Teodorico, convertido ao arianismo, resolveu os conflitos com a população romano-cristã mediante políticas tolerantes. Procurou elevar o nível cultural de seu povo e aproximar-se da hierarquia eclesiástica. Além disso, aliou-se a outros reinos bárbaros para enfrentar a intervenção do império bizantino. Manteve a tradição jurídica e administrativa de Roma e estimulou o florescimento das artes e das letras.

No fim do século V, os francos fixaram as bases do que seria posteriormente um dos reinos medievais mais poderosos da Europa. Convertido ao catolicismo, o rei Clóvis I conseguiu o apoio da população da antiga Gália com uma política de fusão entre os galo-romanos e os francos. Conseguiu impor-se a toda a Gália, expulsou os visigodos para a Espanha no ano 507 e dominou os outros povos bárbaros, com exceção dos burgúndios, que foram vencidos por seus sucessores. As únicas zonas da Gália que não conseguiu dominar foram a Setimânia e a Provença.

Na península ibérica, os visigodos constituíram uma monarquia próspera e culta, na qual se fundiram os traços germânicos e as tradições seculares romanas. A monarquia visigoda esforçou-se para conquistar a unidade territorial e formar um estado. A oposição da população hispano-romana ao arianismo foi o primeiro obstáculo que ela teve de vencer. No século VI a monarquia visigoda chegou à plenitude com Leovigildo, que estabeleceu a unidade territorial depois de vencer os suevos do noroeste, os bascos do norte e os bizantinos do sudeste. Apesar disso, os problemas religiosos só foram solucionados quando Recaredo reconheceu o cristianismo como sua religião, no ano 587, abjurando o arianismo. A ocupação da península ibérica pelos árabes no início do século VIII foi favorecida pelas lutas entre Rodrigo e Áquila. O poder dos visigodos extinguiu-se em poucos anos e teve início uma nova etapa na península e na Europa, com a expansão do Islã.

Durante o século VI, o reino merovíngio dos francos sofreu constantes divisões entre os sucessivos herdeiros da coroa. Essas fragmentações hereditárias do reino, considerado como propriedade dinástica, foram a causa da sua estagnação política e cultural. A monarquia debilitou-se em lutas internas, o que permitiu o fortalecimento dos poderes locais e a intervenção dos lombardos da Itália. Essa situação se manteve até o início do século VII, quando Dagoberto I impôs a unidade territorial que permitiria o aparecimento de uma forte dinastia, a carolíngia.

Na Itália ocorreram acontecimentos importantes depois da conquista do reino ostrogodo pelo imperador bizantino Justiniano I, em meados do século VI. O império bizantino alcançou, nessa época, seu apogeu político e cultural, e Justiniano I, ajudado por seus generais Belisário e Narses, tentou reconquistar a parte ocidental do antigo Império Romano e restabelecer a unidade do Mediterrâneo. Seus sucessores enfrentaram problemas religiosos e incursões de ávaros, eslavos e persas, que foram derrotados pelo imperador Heráclio no início do século VII. Os lombardos conquistaram o norte da Itália em poucos anos, a partir de 568, e empreenderam o ataque ao reino merovíngio. Bizantinos e lombardos dividiram entre si o território correspondente à Itália. No fim do século VI, quase todo ele, com exceção de Roma, Sicília e Ravena, estava sob domínio lombardo.

Na Grã-Bretanha, a invasão de anglos e saxões, em meados do século V, forçou os bretões a se refugiarem na Cornualha, em Gales e na Escócia, ou a se submeterem ao novo poder. Os anglo-saxões dividiram o território em sete pequenos reinos, que lutaram para estabelecer sua hegemonia sobre o sul da ilha.

Os reinos surgidos no Ocidente deram nova fisionomia à Europa, mas não desapareceu totalmente a tradição que Roma havia legado. Em muitos casos, principalmente nos lugares mais romanizados, foram mantidos a ordem e o direito romanos, combinados com contribuições dos costumes jurídicos dos povos germânicos. A religião, junto com as características de cada um desses povos, foi o principal elemento de coesão dos novos reinos do oeste europeu, e uma das causas de seu distanciamento dos bizantinos, cujo cristianismo tinha aspectos peculiares.

Quando desapareceu o poder do império no Ocidente, a igreja arrogou-se a supremacia universal. O papa foi reconhecido como a autoridade máxima a que deviam se submeter os poderes temporais. Assim, a hierarquia eclesiástica de Roma representou o fator aglutinante das monarquias ocidentais. A progressiva conversão dos bárbaros ao cristianismo fez da igreja a instituição mais importante da Idade Média. A cultura, a arte, a ciência e as letras eram patrimônio eclesiástico. Nos mosteiros, os monges realizaram um cuidadoso trabalho de compilação dos textos clássicos e dos escritos teológicos dos padres da igreja.

A constituição das monarquias europeias e do poder temporal do papa favoreceu o distanciamento político e religioso entre a Europa e o império bizantino. O papado, assediado pelos lombardos, tinha pedido ajuda a Constantinopla, mas os imperadores orientais, ocupados com a discussão sobre a veneração das imagens e preocupados com a pressão do Islã em suas fronteiras, desinteressaram-se dos assuntos do Ocidente. Os papas se viram obrigados, então, a recorrer ao reino franco, que se consolidara como principal poder na região. Pepino o Breve destronou os merovíngios e foi reconhecido como rei pelo papa Estêvão II.

Os francos deram apoio militar ao papado e em pouco tempo venceram os lombardos. Os territórios que até então estavam sob domínio dos lombardos passaram ao controle do papa, o que deu origem aos estados pontifícios. Para justificar a cessão desses territórios e a autoridade papal como poder temporal sobre eles, recorreu-se à Doação de Constantino, documento forjado pelo qual esse imperador teria transferido ao papa Silvestre I e a seus sucessores a autoridade sobre certos territórios no Ocidente.

Época carolíngia

A dinastia carolíngia, como sucessora da merovíngia, revelou-se capaz de estender sua influência à maior parte da Europa ocidental. Pepino o Breve dedicou-se a ampliar os limites de seu reino, com o que a Gália se tornou a partir de então uma unidade territorial regida por uma coroa única, mas foi seu filho e sucessor, o futuro imperador Carlos Magno, quem levou o reino dos francos a seu período de glória.

Os sucessivos ataques dos lombardos na Itália levaram o papa Adriano I a pedir ajuda a Carlos Magno que, no ano 774, conseguiu vencê-los e reclamou para si o título de rei desse povo. A Itália passou à esfera política dos francos. As campanhas militares de Carlos Magno continuaram por muitos anos, durante os quais ele derrotou saxões, frisões, bávaros e ávaros. Também estabeleceu um sistema de controle e tributação sobre os povos eslavos residentes nas fronteiras de seu reino e conteve a expansão do Islã ao sul dos Pireneus.

Carlos Magno foi proclamado defensor da cristandade europeia e da igreja, e todos os demais reinos reconheceram a superioridade do reino franco. O papa Leão III, que precisava de apoio militar constante, coroou-o imperador no Natal do ano 800, e ele foi aclamado pelo povo como “augusto”. Com isso, Carlos Magno uniu sua força e prestígio políticos ao título de imperador, até então reservado aos monarcas bizantinos que, forçados pela situação crítica em que se encontravam, em guerra contra búlgaros e árabes, reconheceram o título imperial do rei dos francos.

Durante o reinado do novo imperador do Ocidente, a Europa experimentou notável desenvolvimento cultural, que se tornou conhecido sob o nome de “renascimento carolíngio”. Preocupado com a pouca cultura do clero e dos funcionários imperiais, Carlos Magno mandou construir escolas nos mosteiros, catedrais e em sua própria corte, sediada em Aachen (Aix-la-Chapelle). Criou a escola palaciana, onde lecionavam as maiores personalidades da ciência e das letras.

A obra do imperador lançou a ideia da Europa como unidade religiosa e cultural. Com sua morte, no ano 814, a coroa passou a seu filho Luís I o Piedoso. Entretanto, a crescente influência da nobreza e a proliferação das relações feudais debilitaram a monarquia e desestruturaram a unidade política. As lutas pela igualdade de herança e pela divisão territorial entre os filhos de Luís I precipitaram a desagregação do império fundado por Carlos Magno.

No ano 843, o Tratado de Verdun definiu as fronteiras dos reinos que couberam aos filhos de Luís I: o de Lotário I, que também ficou com o título imperial, o de Luís o Germânico e o de Carlos o Calvo. A tradição da divisão hereditária entre os sucessores foi mantida por todos os reis carolíngios. Carlos III o Gordo, que tinha conseguido reunir quase todos os territórios do império franco, abdicou no ano 887. Foram criados então seis reinos independentes: França, Itália, o reino franco oriental (Alemanha), Provença, Borgonha e Lorena.

Durante o século IX, os muçulmanos da Espanha constituíram uma força política unificadora e expansionista. No norte foram fundados reinos cristãos que logo estenderam seus territórios para o sul, com a Reconquista. Entretanto, a convivência entre muçulmanos e cristãos predominou por vários séculos. A vida econômica reviveu durante o período de domínio árabe, e as artes e ciências fizeram grandes progressos.

Nessa época, a Europa sofreu a invasão de uma segunda onda de povos bárbaros vindos do norte, que agiram, segundo a ocasião, de forma pacífica ou agressiva. Noruegueses, suecos e dinamarqueses, conhecidos como viquingues ou normandos, perpetraram ataques e invasões, sobretudo contra o litoral da Europa ocidental. Os suecos, especialmente, visavam o domínio das rotas comerciais do Báltico e da Rússia.

A Irlanda sofreu, desde o ano 834, contínuos ataques dos noruegueses e, mais tarde, na segunda metade do século IX, dos dinamarqueses, o que provocou a fuga de numerosos monges para a França. Os ataques dos dinamarqueses se sucederam ao longo do litoral continental, provocando graves danos ao império carolíngio, assim como à Espanha, onde foram contidos tanto pelos muçulmanos como pelos reis cristãos do norte. Os normandos penetraram no interior da Europa, chegaram a Paris e a outras cidades do continente e fixaram-se no noroeste da França (Normandia) no ano 924. A partir de meados do século IX, conquistaram o centro e o norte da Inglaterra. Os suecos, navegando pelos rios Volga e Dnieper, estabeleceram contatos comerciais com o império bizantino e com os árabes. Na Rússia, fundaram pequenos estados que funcionavam como sedes de suas atividades comerciais. Kiev e Novgorod eram os mais importantes.

No fim do século IX um novo povo atacou as fronteiras orientais da Europa: os húngaros, ou magiares. Ocuparam rapidamente a região do Danúbio, de onde partiram para incursões pela Itália, França e Alemanha. A desintegração do império carolíngio e essa segunda onda de invasões deixaram o oeste europeu numa situação de grave deterioração política e econômica até que, no século X, o estabelecimento do Sacro Império Romano-Germânico restabeleceu a ordem na Europa central. Oto I o Grande, coroado imperador no ano 962, encontrou forte apoio no papado e contribuiu, como antes fizera Carlos Magno, para o fortalecimento da igreja como poder temporal. Sua vitória sobre eslavos e magiares transformou-o num novo defensor da cristandade ocidental.

Na Inglaterra, Alfredo o Grande, rei de Wessex, ergueu fortificações e reconstruiu o exército, com o que o reino pôde resistir à invasão dos dinamarqueses e aumentar seu território. Entretanto, na primeira metade do século XI, o rei dinamarquês Canuto o Grande conseguiu dominar toda a Inglaterra. Em 1066, os normandos do noroeste da França, chefiados por Guilherme o Conquistador, invadiram a ilha. Desde então, intensificaram-se os contatos entre o arquipélago britânico e o continente. Na França, a monarquia foi incapaz de manter a unidade do reino. Os nobres se opuseram à coroa em defesa de seus próprios interesses. Durante todo o século X foi constante a luta entre as grandes casas nobres pela hegemonia, até que Hugo Capeto, no ano 987, conquistou a coroa para si e sua dinastia, substituindo para sempre os carolíngios. Os reinos cristãos da península ibérica iniciaram nessa época uma lenta recuperação e passaram a enfrentar o poder islâmico. Leão, Navarra, o condado de Aragão e Castela continuaram a conquistar territórios ocupados pelos muçulmanos.

Evolução do feudalismo

Até o século XI as monarquias europeias viveram um período de retrocesso econômico em consequência das constantes guerras, das ondas de invasões, da cessação do comércio e do baixo rendimento agrícola. A insegurança, que manteve isoladas as populações europeias durante muito tempo, favoreceu a implantação do feudalismo. Esse sistema, cujas raízes remontam ao fim do Império Romano, caracterizou-se pela estruturação da sociedade com base na relação jurídica denominada vassalagem, estabelecida entre senhor feudal e vassalo ou servo, na qual o senhor proporcionava proteção em troca de fidelidade, trabalho e pagamento de tributos. Ao feudo, unidade física da relação de vassalagem, pertenciam seus habitantes, que passavam a vassalos do senhor a quem fosse transmitido o território habitado e cultivado por eles. Do ponto de vista econômico e social, o feudalismo acarretou a divisão da sociedade em duas classes básicas: a nobreza, com diferentes graus de poder até a cúpula real, e o campesinato, cuja subordinação transformou-se gradualmente em relação de servidão.

O feudalismo determinou a atomização do poder político, pois a sucessão de relações pessoais entre o rei e a alta nobreza, e entre esta e os pequenos senhores, criou um sistema de jurisdições e fidelidades particulares apenas simbolicamente subordinadas à autoridade monárquica. Além disso, a concessão de cargos administrativos com base nos feudos contribuiu para romper a unidade política dos diferentes reinos.

Também a igreja se viu mergulhada na divisão da sociedade em classes, ou estados. Bispados, abadias e mosteiros possuíam grandes feudos e mantinham com seus vassalos o mesmo tipo de relações que os senhores leigos. Entretanto, a igreja teve papel fundamental na conservação e transmissão dos conhecimentos antigos e contribuiu para manter a unidade cultural da Europa, principalmente com a expansão da ordem beneditina. A reforma realizada por essa ordem religiosa no século X, a partir do mosteiro francês de Cluny, favoreceu a independência da igreja em relação aos poderes feudais e estendeu por toda a Europa ocidental o estilo artístico característico do feudalismo: o românico.

A reforma de Cluny apoiou o fortalecimento da autoridade papal durante a questão das investiduras, conflito entre o império alemão e a igreja sobre o direito de nomear prelados para os cargos religiosos. Os papas Gregório VI, Leão IX, Nicolau II e Gregório VII (inspirador da reforma gregoriana) e os imperadores Henrique III e Henrique IV foram os personagens mais destacados dessa luta, que se travou principalmente no século XI.

Baixa Idade Média

As invasões e o feudalismo fizeram desaparecer quase totalmente a vida urbana na Europa. As cidades que sobreviveram à decadência do Império Romano transformaram-se em meras residências de bispos e de senhores feudais, pouco vinculadas a sua zona rural e a outras cidades.

A partir do século XI, porém, o processo de empobrecimento começou a reverter nos reinos europeus. Muito lentamente, a organização feudal da sociedade passou a dar lugar a uma nova ordem, em que o papel econômico mais dinâmico passou para a burguesia urbana.

A abertura de novas lavouras, o crescimento demográfico e o aumento da produtividade agrícola, em consequência de técnicas mais modernas (uso do arado com aiveca, canga para animais de tração, moinhos de vento etc.), provocaram um excedente de mão-de-obra e de produção agrícola que beneficiou o desenvolvimento das cidades. Surgiu nelas uma nova classe de comerciantes e artesãos, nos burgos ou bairros construídos em volta das velhas muralhas, que promoveu o intercâmbio entre os núcleos urbanos e o campo, assim como a abertura de rotas comerciais entre regiões distantes. A atividade dos artesãos urbanos foi regulada por uma instituição típica da época, a guilda, associação fechada e hierárquica de cada ofício, destinada a proteger seus associados, evitando a concorrência entre eles.

O crescimento demográfico e econômico propiciou a expansão territorial dos reinos cristãos, principalmente no leste da Europa e na península ibérica. Também se abriram ao comércio grandes horizontes marítimos, como o Báltico e o Mediterrâneo, que passaram a se ligar por rotas terrestres. No norte da Europa, as cidades dos Países Baixos estabeleceram sólidos laços comerciais com a região do Báltico, onde obtinham cereais, peles e outras matérias-primas, em troca de produtos manufaturados. A comunhão de interesses entre essas cidades deu lugar à criação da Liga Hanseática. No Mediterrâneo, a indústria, o comércio e a atividade financeira floresceram nas cidades do norte da Itália (Veneza, Gênova, Florença etc.), bem como em Marselha e Barcelona. Características da época foram as feiras, grandes reuniões anuais de comerciantes e banqueiros que eram realizadas nas cidades mais importantes.

Os interesses econômicos, junto com o ideal religioso da defesa dos lugares santos conquistados pelos muçulmanos, permitiram aos estados do Ocidente a realização de um dos maiores empreendimentos da cristandade medieval, as cruzadas, que serviu para ampliar os limites do poder europeu, instituir o comércio mediterrâneo e aliviar a pressão muçulmana sobre o império bizantino.

No fim do século XI, o papa Urbano II autorizou a primeira cruzada, cujo resultado foi a conquista de Jerusalém pelos cristãos. Durante os séculos XII e XIII realizaram-se novas cruzadas e fundaram-se diversos reinos cristãos no Oriente Médio, mas todos eles acabaram por cair em poder dos turcos otomanos. Como parte da expansão territorial da Europa, cabe destacar a colonização germânica no leste do continente e o avanço da Reconquista na Espanha. Todos esses empreendimentos, imbuídos de forte espírito religioso, causaram o aparecimento das ordens de cavalaria.

Na Alemanha, a ideia de formar um império universal cristão e a pressão demográfica foram as causas da chamada “marcha para o leste” (Drang nach Osten) dos séculos XII e XIII. Os imperadores alemães protegeram os reis poloneses e ajudaram-nos a converter ao cristianismo os habitantes da Prússia. Dessa forma, na primeira metade do século XIII, a Ordem Teutônica iniciou a campanha para a evangelização dos prussianos, que teve como consequência a criação de um estado alemão em seu território.

Em 1241 os mongóis invadiram o sul da Polônia, mas foram detidos pelas tropas de Henrique II da Silésia. As destruições provocadas pelos mongóis obrigaram os sucessores de Henrique II a permitir a imigração de artesãos e camponeses alemães, para a reconstrução da economia. A influência alemã representou um perigo para a independência da Polônia até que, no século XIV, sua união com a Lituânia permitiu à dinastia Jaguelão neutralizar os alemães e recuperar a Pomerânia e Gdansk. A Hungria, depois da invasão dos mongóis, em 1241-1242, foi vítima da penetração germânica, até que a dinastia dos Anjou ocupou o poder entre 1308 e 1382. Tal como os mongóis, os turcos representaram uma perigosa ameaça para o país, cujo rei, Luís I o Grande, foi derrotado em 1363. Polônia e Hungria formaram uma unidade política a partir de 1440, mas em 1458 a segunda recuperou sua independência com Matias Corvino. Na Espanha, as monarquias cristãs continuaram seu avanço sobre os reinos muçulmanos, que culminaria em 1492 com a conquista de Granada. Na baixa Idade Média, as coroas de Aragão e Castela viveram um período áureo, tanto do ponto de vista econômico como cultural.

No século XII, as monarquias europeias começaram a impor sua autoridade sobre os senhores feudais, aliando-se para isso à burguesia urbana. Os estados adotaram novas instituições políticas, as cortes ou Parlamentos, que aprovaram as leis e impostos que deviam vigorar em todo o território do reino. Na França, os Capetos, apoiados pelos burgueses, lançaram as bases do poderio monárquico, principalmente durante o reinado de Filipe II Augusto, que praticou uma política de centralização e expansão da coroa nos ducados independentes.

Na Inglaterra, Henrique I e Henrique II conquistaram amplas prerrogativas para a coroa. No século XIII foi redigida a Magna Carta, primeira expressão das bases institucionais pelas quais o poder monárquico inglês foi regulamentado e submetido ao Parlamento. Na segunda metade do século XII, o imperador alemão Frederico I Barba-Roxa impôs seu poder ao papado de Roma. Apesar disso, no fim do século, o papa Inocêncio III conseguiu fazer valer a supremacia espiritual da igreja sobre todos os reinos cristãos. A consolidação desse poder foi favorecida pela reforma promovida pelo monacato cisterciense, especialmente por são Bernardo de Claraval.

A vida religiosa estendeu-se às cidades e aos burgos por intermédio das ordens mendicantes. Os franciscanos pregaram o ideal da pobreza e humildade entre as classes populares, enquanto os dominicanos se ocuparam principalmente do ensino e do estudo teológico nas universidades. Essas instituições docentes, surgidas inicialmente como agrupamentos de professores e alunos independentes das antigas escolas monacais e episcopais, desempenharam um papel importante no desenvolvimento e na difusão da cultura. A recuperação da filosofia aristotélica motivou o aparecimento da escolástica, doutrina teológica e filosófica sistematizada por santo Tomás de Aquino.

A arte gótica foi a expressão estética da baixa Idade Média. A invenção do arco ogival e da abóbada de nervuras, apoiada em arcobotantes e contrafortes, permitiu a construção de gigantescas e elevadas catedrais, capazes de alojar um número de pessoas muito maior do que as velhas igrejas românicas.

Durante o século XIV desencadeou-se na Europa uma profunda crise econômica, social e espiritual. Uma sucessão de más colheitas, consequência de mudanças climáticas, trouxe a fome a uma população que ultrapassava em muito as possibilidades produtivas do sistema feudal. Ocorreram numerosas revoltas camponesas contra os senhores, enquanto nas cidades os trabalhadores pobres das guildas se rebelavam contra os ricos comerciantes e os mestres artesãos reunidos nos patriciados que dominavam os governos urbanos. As destruições provocadas por essas revoltas juntaram-se aos danos causados pelas guerras promovidas pelos senhores feudais com o objetivo de recuperar o poder perdido. Também a guerra dos cem anos, entre a França e a Inglaterra, provocou grande devastação e obrigou muitos camponeses a abandonar suas terras.

A fome favoreceu a disseminação da grande peste que grassou em 1348. As sucessivas ondas da epidemia, durante a segunda metade do século, reduziram a um terço o total da população europeia. A crise espiritual manifestou-se no cisma do Ocidente, que durante quase todo o século XIV manteve a igreja dividida entre Avignon e Roma, e no aparecimento de movimentos místicos e reformadores que pregavam o resgate da pureza dos costumes cristãos.

Uma vez superada a crise, o século XV surgiu como período de transição para novas realidades sociais, econômicas, políticas e culturais. Com o enfraquecimento da sociedade feudal e da estrutura das guildas, o artesanato e o comércio ganharam maior liberdade para ampliar suas atividades e adotar as fórmulas que, pouco a pouco, configuraram o modo de produção capitalista. As monarquias, principalmente a inglesa, a francesa e a castelhana, reforçaram seu poder com a criação de exércitos permanentes e aparatos burocráticos, adquirindo um caráter autoritário que prenunciava o aparecimento do aparelho de estado da idade moderna.

A tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453, selou o fim do comércio com o Mediterrâneo oriental. A burguesia europeia viu-se obrigada a buscar novas rotas comerciais pelo oeste, o que contribuiu para o progresso das técnicas de navegação e possibilitou os grandes descobrimentos. Ao mesmo tempo, a rejeição da cultura medieval e a busca das fontes originais da arte e pensamento clássicos propiciaram o aparecimento de uma nova maneira de ver a vida e as formas estéticas. Do legado medieval e da recuperação da cultura greco-latina surgiu o Renascimento.

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