Biografias

Aristóteles

Aristóteles destacou-se pela diversidade de interesses intelectuais, que o levaram a descobrir novos domínios, depois denominados lógica, biologia, política, física, poética e ética. Esse fato dá um caráter peculiar à obra aristotélica, a mais abrangente do mundo antigo.

Uma vida dedicada ao saber

Aristóteles (c, 384-323 a.C.) nasceu em Estagira, na península Calcídica. Era filho de um médico a serviço de Amintas III, rei da Macedônia e avô de Alexandre, o Grande.

Ficou órfão ainda menino e aos 18 anos foi enviado pelo tutor a Atenas, onde frequentou durante vinte anos a Academia platônica. Quando, em 347, morreu Platão, Aristóteles partiu para Assos, uma cidade da Ásia Menor governada por Hérmias, com cuja sobrinha, Pythia, casou-se. Viveu ali até 344.

Ao enviuvar, voltou a casar-se, dessa vez com uma escrava, Herpilis, mais jovem do que ele e mãe de Nicômaco (outras fontes atribuem a maternidade de Nicômaco a sua primeira esposa). Em Assos, conheceu também Teofrasto, o grande cientista e historiador que, depois, continuaria sua obra,

Pintura de Aristóteles
Aristóteles, em detalhe de A Escola de Atenas, de Rafael (1483-1520).

Em 342 encarregou-se da educação de Alexandre, o Grande, então adolescente. Com Teofrasto, voltou a Atenas (334), fundou o Liceu e começou a desenvolver um extraordinário trabalho docente e investigativo.

Depois da morte de Alexandre (323), foi acusado de impiedade e fugiu de Atenas – “para que os atenienses não pecassem de novo contra a filosofia”, disse, referindo-se à morte de Sócrates. Refugiou-se em Caleis, na ilha de Eubeia, e lá morreu em 323 a.C.

Os peripatéticos

O lugar onde Aristóteles ensinava tinha o nome de Liceu, um antigo ginásio dedicado a Apoio Lício, a noroeste de Atenas, em cujo jardim ele costumava passear enquanto filosofava com seus discípulos e amigos. Daí o nome “peripatético” (de pehpatein, passear).

Parte dos escritos que chegaram até os dias atuais eram, originalmente, as anotações de Aristóteles para esse ensinamento “dialogado”.

A lógica

Uma das grandes contribuições de Aristóteles é a lógica, que nasceu com ele, sob o nome analitíkós (a palavra “lógica” foi empregada pela primeira vez pelos estoicos) como disciplina independente.

A lógica não é ciência (não tem como objetivo o conhecimento empírico ou teorético) e sim um instrumento (organon) que ajuda a pensar sem equívocos. Nesse sentido, ela é necessária à correta estruturação das ciências, pois visa a impedir proposições e análises incorretas.

A lógica estabelece normas para o pensar e regras para o emprego da linguagem, com o objetivo de evitar erros no desenvolvimento das ideias. Para pensar corretamente, segundo Aristóteles, deve-se partir dos elementos mais simples – que ele chamou de termos ou categorias – para os compostos, os mais complexos.

O silogismo

O silogismo é uma demonstração ou raciocínio dedutivo, uma operação do pensamento. Conta com uma série de regras, expostas por Aristóteles nos Segundos analíticos. Será mostrada aqui sua estrutura básica, composta por três orações.

Duas delas são as premissas, afirmações iniciais que levam à formação de um raciocínio. A terceira oração é a conclusão, inferida das premissas 1 e 2. A conclusão é necessária, isto é, não poderia ser nenhuma outra porque, caso fosse, o raciocínio estaria equivocado.

Seguindo o exemplo de Aristóteles:

Todos os homens são mortais. (premissa 1)
Sócrates é homem. (premissa 2)
Logo, Sócrates é mortal. (conclusão)

A origem da palavra “metafísica”

Quando Teofrasto morreu, os textos de Aristóteles foram herdados por um discípulo, Neleu, e acabaram depositados em um quarto subterrâneo. Depois de várias peripécias, foram parar nas mãos de Sila, que conquistou Atenas em 86 a.C. Já em Roma, ocupou-se deles um gramático, que mandou copiá-los. Muitas dessas cópias chegaram a Andrônico de Rodes, um peripatético do século I a.C, que os organizou e editou pela primeira vez.

Conta-se que, na organização desses escritos, Andrônico encontrou uns pequenos “fascículos” de conteúdo variado. Por não saber como organizá-los, entre obras que estudavam questões mais conhecidas – a linguagem, os fenômenos da natureza, a vida dos animais, os costumes dos homens, a organização da cidade etc. —, colocou-os atrás dos textos que tratavam de física. E, ao colocá-los ali, chamou-os de “os que vão atrás (meto) dos livros físicos”. Esse nome casual estabeleceria um dos grandes domínios da filosofia: a metafísica.

As dez categorias

Aristóteles estabeleceu dez “categorias”, gêneros de palavras simples que podem ser usadas para formar outras, compostas.

“As expressões que não são de modo algum compostas” diz ele, são: substância (homem; cavalo); quantidade (tudo que pode ser contado ou medido, como três metros); qualidade (branco; gramático); relação (o dobro, a metade, maior do que); lugar (no mercado; no Liceu); tempo (ontem; o ano passado); posição (deitado; sentado); estado (armado [com armas]; calçado [usando sapatos]); ação (lançar; cauterizar) e paixão (estar lançado; estar cauterizado).

Por: Renan Bardine

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